Por Paola Siman

A reconstrução da Avenida Tereza Cristina está chegando ao fim. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) investiu 4,8 milhões na obra, que será finalizada até o fim do mês de maio, após mais de dois meses de reparos na via que foi destruída pelas tempestades que atingiram a cidade no fim de janeiro deste ano.

Em 17 de fevereiro, a prefeitura iniciou a recuperação de 221 pontos mapeados pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), nas nove regionais da cidade. Só na Avenida Tereza Cristina, 5,25 quilômetros foram danificados e precisaram de algum tipo de serviço, como o restabelecimento do pavimento asfáltico, execução de limpeza urbana, desobstrução do sistema de drenagem e reconstrução de passeios.

A parte mais afetada pelas enchentes do Ribeirão Arrudas foi a do bairro Betânia, no trecho entre a Avenida Dom João VI e a entrada para o Anel Rodoviário, na região Oeste da capital. Os reparos no local já foram finalizados e, desse ponto até a Av. Amazonas, o trânsito está totalmente liberado.

No momento, os trabalhos estão concentrados entre a Via 210 e a Rua Queóps, na altura do bairro Vista Alegre, último trecho da avenida pelo qual a prefeitura é responsável, no limite entre Belo Horizonte e Contagem. O trânsito no restante da via está sendo liberado aos poucos, à medida que o asfalto é recapeado e os buracos são tampados.

PREJUÍZOS ALTOS

Jamir Abadi, dono de uma oficina na Avenida Tereza Cristina há 16 anos, conta que perdeu muitos clientes desde janeiro, já que o trânsito estava fechado na região até o dia 25 de março, o impedindo de abrir sua oficina. É a primeira vez que ele foi diretamente afetado pelas enchentes na avenida. “Dessa vez a região aqui acabou. Agora que os vizinhos estão terminando de se refazer. Tenho dois imóveis que desvalorizaram mais de 70%”, comenta.

Quando questionado sobre o seu prejuízo durante esse período, Jamir conta que vários funcionários deixaram de prestar serviços para ele e, além disso, calcula uma perda de aproximadamente 200 mil reais em mão de obra não realizada durante o tempo que sua oficina teve que ficar fechada. Mas, segundo ele, outros colegas da região tiveram prejuízos ainda maiores, que chegaram a 500 mil reais.

Abadi ainda reclamou da demora do serviço público em executar os reparos na região, em comparação a outras partes da cidade, que foram reconstruídas poucos dias após as tempestades. “No dia seguinte já tinha até flores na Zona Sul”, alfineta Abadi.

TENTANDO SE REERGUER 

Do outro lado da Tereza Cristina, dona Marisa, de 69 anos, abriu um restaurante na frente de casa para conseguir uma renda extra depois das enchentes do Ribeirão Arrudas. “Graças a Deus a vida da gente ficou, então abri aqui para ajudar um pouquinho. Como eu e meu marido somos aposentados e só recebemos um salário mínimo, alguns marmitex que eu vendo já me ajudam”.

De acordo com ela, as enchentes são constantes ali, mas normalmente a água só chegava até a sua garagem. “Aqui sempre alaga, mas dessa vez eu perdi todos os meus móveis. Eu e minha irmã subimos na janela, faltando dois dedos para a água passar. A cena dos meus móveis sendo levados pela chuva e depois sendo destruídos por um trator foi muito chocante pra mim. Foi terrível, estava um cenário de guerra!”, desabafa.

Marisa conta que recebeu doações de desconhecidos, que a ajudaram com um sofá, mesa e colchões. Ela também recebeu uma cesta básica e um kit de limpeza da Cruz Vermelha.

Moradora da região há mais de 20 anos, estava acostumada a sair e resolver suas pendências usando como transporte os ônibus, que paravam perto da sua porta. Mas, desde o início do ano, os moradores da área ficaram sem estrutura de transporte público, dificultando muito a vida de todos.

CHOVENDO NO MOLHADO?

Desde 2008 os moradores da Avenida Tereza Cristina sofrem com as constantes inundações que acontecem todo início de ano. Assim como seus vizinhos, dona Marisa tenta conviver com a situação. Observando o constante vai e vem de máquinas e trabalhadores em frente à sua casa, ela ainda tem dúvidas quanto à eficácia dessas obras para impedir que tudo se repita no ano que vem.

Máquinas pesadas usadas nas obras da Tereza Cristina – foto de Paola Siman

Em nota, a Sudecap informou que, nos últimos anos, executou diversas intervenções para reduzir o problema das enchentes na região. A implantação de duas bacias no córrego Túnel/Camarões na região do Barreiro, que também faz parte da bacia do Arrudas, está em fase final de execução. Segundo a empresa, as bacias de detenção da primeira etapa do Córrego Olaria/Jatobá, e a bacia de detenção do Córrego Bonsucesso também foram concluídas.

“Juntas, todas essas bacias serão capazes de armazenar quase 1 bilhão de litros d´água. Essas obras da prefeitura diminuem de maneira expressiva os impactos das chuvas na região da avenida Tereza Cristina. Entretanto, ainda assim, para reduzir o risco das inundações nesta avenida, também é necessária a conclusão das intervenções no córrego Ferrugem em Contagem, iniciadas pelo Governo do Estado, nas quais estavam previstas a construção de três bacias de detenção.”, informou a Superintendência de Desenvolvimento da Capital.