Por Letícia Sudan

Apesar de ter sido subestimada pelo atual governador de Minas Gerais, Romeu Zema, durante as eleições de 2018, onde citou em entrevista que desconhecia a Fundação Ezequiel Dias, a mesma tem sido de extrema importância no ano de 2020, primeiro no caso da Backer e, hoje, com a Covid-19. 

A FUNED – Fundação Ezequiel Dias foi fundada em 1907. Localizada no Bairro Gameleira, região Oeste de Belo Horizonte, a fundação trabalha há 113 anos buscando soluções em saúde pública. A fundação é reconhecida como um relevante Instituto de Ciência e Tecnologia do Estado de Minas Gerais, sendo referência na pesquisa científica a partir de venenos de serpentes, aranhas, escorpiões e abelhas.

A FUNDAÇÃO

Integrante do Sistema Estadual de Saúde, a instituição age de forma integrada com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com o Ministério da Saúde, com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) e outras secretarias municipais de saúde e prefeituras. Também tem relações com órgãos de fomento à pesquisa, com a comunidade científica, com a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Fundação Hemominas e Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESP-MG). 

Em Minas Gerais, a Funed tem exclusividade na produção de soros antitóxicos, antivirais e anti peçonhentos, também é o único laboratório público que fornece para o Ministério da Saúde a vacina contra a meningite C. Além disso, a também tem exclusividade na América Latina para produzir a Talidomida, um medicamento usado no tratamento da hanseníase e com potencial para o tratamento de outras doenças. Sendo assim, nomeada como um dos mais bem equipados e maiores parques tecnológicos do Brasil. 

O Laboratório Central de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (Lacen-MG) fica dentro da Fundação Ezequiel Dias, e tem 42 laboratórios de análises e exames de última geração para as vigilâncias ambiental, sanitária, saúde do trabalhador e epidemiológica. 

“Assim como todas as instituições públicas brasileiras, a Funed sofre as variações financeiras decorrentes da crise econômica. Apesar das adversidades, a Funed, por meio do seu parque produtivo, tem conseguido aumentar sua receita diretamente arrecadada com a venda de medicamentos, soros e vacinas.” – Rodrigo Souza Leite, vice-presidente da Funed.

A ATUAÇÃO DA FUNED NO CASO BACKER 

A Polícia Civil de Minas Gerais ainda investiga o motivo da contaminação dos lotes de cervejas da Backer que intoxicaram 42 pessoas, levando 9 a óbito, no início de 2020. O caso começou quando pessoas foram internadas com quadro de insuficiência renal e problemas neurológicos, algumas delas tinham ligação com o Bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte. 

Neste caso, a Fundação Ezequiel Dias teve um papel de grande importância, já que ela realizou exames laboratoriais para pesquisa e descartou arboviroses, febres hemorrágicas, infecções bacterianas e fúngicas sistêmicas, enfermidades neuro invasivas, sarampo, hepatites virais, doença de Chagas, HIV, entre outras. A Funed também analisou alimentos que estavam na casa de alguns pacientes, além da própria bebida da Backer.

A FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS E A COVID-19

A Funed também está atuando no caso do novo coronavírus, em parceria com 19 laboratórios, para realizar testes de identificação do Covid-19. A fundação já realizou quase dez mil exames de acordo com método da Organização Mundial de Saúde – OMS. O responsável por coordenar a rede de diagnóstico laboratorial em Minas Gerais é o Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais, uma das diretorias da fundação. 

Para descobrir se o vírus da Covid-19 que está circulando em Minas Gerais tem as mesmas características ou se sofreu mutação em relação a outro estado, pesquisadores da Funed, em parceria com a Fiocruz, sequenciaram, em 24 horas, 40 genomas do vírus SARS-CoV-2. 

Vice-presidente da Fundação Ezequiel Dias, Rodrigo Souza Leite. (Foto: ACS Funed)

Rodrigo Souza Leite, biólogo e doutor em Ciência e Tecnologia, vice-presidente da Fundação Ezequiel Dias, disse que os resultados preliminares mostraram que todas as sequências de genomas isoladas em Minas Gerais se agrupam formando um grupo, ou seja, são similares. 

“Mesmo que tenham uma relação filogenética próxima, ainda assim a Funed irá analisar mais amostras e realizar o sequenciamento genético da SARS-CoV-2 para ter mais informações sobre a dispersão do vírus no estado de Minas Gerais. Esse é um trabalho a longo prazo, de vigilância genômica (área da ciência que estuda o genoma completo de um organismo), que pode indicar respostas sobre a relação dos subtipos de vírus com os sintomas apresentados e como se dá a circulação e a dispersão do vírus no estado.” 

Rodrigo Souza Leite disse também que, desde o início da pandemia da Covid-19, a Funed tem ampliado a sua capacidade operacional, para conseguir atender à crescente demanda por diagnóstico laboratorial. 

“Eram 200 testes por dia até março, atualmente, a Funed e seus laboratórios parceiros têm capacidade para realizar até 2 mil diagnósticos moleculares para a Covid-19. Além disso, a Funed tem habilitado laboratórios em todo o estado para que os mesmos possam realizar de forma descentralizada o diagnóstico, o que aumenta ainda mais a capacidade de Minas Gerais em ofertar exames laboratoriais.”, completa Rodrigo Souza Leite.

FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS 

A Fundação Ezequiel Dias, por meio de seus programas de estágio e iniciação científica, apoia a formação de profissionais e capacita os profissionais no campo da saúde pública, para diagnósticos, vigilância laboratorial, desenvolvimento e produção farmacêutica, pesquisa básica e aplicada e biotecnologia em saúde. 

Beatriz Alves, 23 anos, está no 9º período de Biomedicina e fez iniciação científica na Funed durante um ano. O seu projeto consistia em encontrar a dose ideal de uma planta que tinha ação contra o rotavírus. Beatriz afirma que sua experiência foi única. “Nunca irei esquecer a Funed e os funcionários do setor de biologia molecular. Eles não receberam nada com o meu projeto, mas mesmo assim, foram muito prestativos e me disponibilizaram todos os recursos.”

A estagiária de Biomedicina, Katlin Nascimento Felício, 21 anos, iniciou o seu estágio na Funed em 2018, também no laboratório de biologia molecular. “As oportunidades que me foram concedidas pela instituição foram muito importantes para enriquecer todo o conteúdo que eu vi dentro da sala de aula e somaram muito ao meu currículo acadêmico.”

Katlin acredita que sua vivência na Funed foi muito além do aprendizado acadêmico. “Pude observar meu crescimento pessoal, na gestão de tempo, na resolução de problemas, na capacidade de tomar decisões, na organização e otimização de tarefas, no relacionamento interpessoal, na atenção e responsabilidades.” 

Atualmente no  Laboratório de Biologia Molecular do Serviço de Virologia e Riquetsioses, da Divisão Epidemiológica de Controle de Doenças do Instituto Octávio Magalhães, localizado na Funed, Katlin Nascimento Felício acompanha e participa, ativamente, de todo o processo da realização dos testes moleculares. Neste laboratório são realizados os testes do coronavírus e a estagiária diz que valoriza muito a oportunidade de vivenciar esse momento de crise, pois irá acrescentar experiência e conhecimento na sua vida enquanto estudante e profissional.