Por Isabela Santana e Laura Mourão

O temporal que atingiu Belo Horizonte e região metropolitana na tarde deste domingo (19) resultou no alagamento do Ribeirão Arrudas, na região da avenida Tereza Cristina, na altura do bairro Betânia. Segundo a Defesa Civil de Belo Horizonte, o Ribeirão Arrudas subiu 9,8 metros, deixando mais de 200 pessoas desabrigadas. 

De acordo com a Defesa Civil, em 2h de tempestade, as regiões Oeste e Barreiro receberam cerca de um terço da quantidade de chuva esperada para todo o mês de janeiro (329,1 mm). Tendo a região Oeste registrado 102,4 mm e o Barreiro 98,8 mm. 

Não é a primeira vez que os moradores próximos a Tereza Cristina sofrem com enchentes. Essa região carrega um histórico de alagamentos, que resultam em destruição e muitas perdas.

SOLO IMPERMEÁVEL

Segundo o idealizador do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, Belo Horizonte foi implantada “violentando” o meio físico e a topografia, sem respeitar os elementos da natureza como os rios, córregos e as montanhas. E, com isso, a cidade herdou uma série de problemas. 

Com o uso de cimento na construção das ruas e casas, o solo se tornou impermeável, fazendo com que a água da chuva, em vez de ser filtrada, desça diretamente para o fundo dos vales, onde ficam os córregos e os ribeirões. Com isso, esses lugares recebem uma grande quantidade de água em um curto intervalo de tempo, fazendo com que o volume da água aumente consideravelmente e ocorra os transbordamentos. 

“Por mais que canalize e aprofunde o leito do Arrudas, com o tempo, a cidade foi crescendo e cada vez a inundação é maior porque a quantidade de água repelida por conta da impermeabilidade do solo é maior ”, explica Apolo. 

PREJUÍZOS  

Essas recorrências de transbordamento na avenida Tereza Cristina afetam diretamente a população que mora ao redor do Arrudas, que perde casas, mantimentos, móveis, roupas e eletrodomésticos. 

O morador Hugo Henrique Amancio (19), foi uma das vítimas da última enchente, e revelou que perdeu tudo pela segunda vez, estando presente pela oitava vez em uma inundação. Além disso, alegou que desde a primeira vez em que perdeu tudo, em 2008, não foi tomada nenhuma medida por parte do poder público para que esses riscos de transbordamento diminuíssem.

“Não deu tempo de salvar nada. Ainda não conseguimos contabilizar o prejuízo. A única ajuda que estamos tendo é a doação de roupas que outros moradores estão entregando e a Defesa Civil entregou colchão e cesta básica. A Prefeitura não veio aqui, não dá resposta de nada, não faz nada para melhorar”, afirmou Hugo.

  De acordo com Hugo Henrique, os próprios moradores estão realizando a limpeza do local e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) está recolhendo os móveis que estão à beira da Tereza Cristina para descarte.

Outra moradora da região, Elcy Veiga, testemunhou o momento da enchente e registrou algumas imagens.

Eu estava na varanda da minha casa, quando vi os objetos das pessoas descerem  pelo rio… geladeira, botijão de gás, caixas d’água e outros. Muita gente se ajunta para ajudar em caso de vítimas ou afogamentos”, disse Elcy.

O presidente da Associação De Moradores e Empreendedores da Vila Betânia, Gladson Reis, afirma que a relação da prefeitura com os moradores da região atingida pelo alagamento tem sido apenas através da Defesa Civil, e que não foram feitas nenhuma negociação, medida de proteção social ou até mesmo diálogo com as famílias.

Nós estamos recebendo muita solidariedade, a sociedade está reagindo e ajudando. Sem a solidariedade da sociedade civil organizada esse povo estaria à míngua. Porque o poder público tem sido ineficiente em resolver esses problemas”, completa Gladson.

PROTESTO

Houve protesto por parte da população atingida. Os moradores reivindicam os seus direitos e solicitam que o município envie assistentes sociais para trabalhar com as famílias e tentar diminuir os danos causados pelo ocorrido. Mas, o Estado não atendeu o chamado e enviou a polícia para conter a manifestação, tendo ainda registros de um policial arremessando móveis e destroços do alagamento no Ribeirão Arrudas. 

O alagamento resultou em pontos de interdição. Em resposta ao Jornal Daqui BH, a Assessoria de Comunicação e Marketing da BHTRANS emitiu a seguinte nota:

“A BHTRANS esclarece que sinalizou os trechos de interdições e que ainda possuem depressões e placas de asfalto soltas. Agentes monitoram as vias e orientam os motoristas a trafegarem em baixa velocidade, evitando, assim, situações de risco. Apenas no trecho da Avenida Tereza Cristina, entre o Anel Rodoviário e a Via 210 (próximo a Rua Metalig), a via se encontra interditada em ambos os sentidos.”

SERVIÇO

A Associação do Bairro Buritis (ABB) convoca os moradores do bairro à ajudarem as vítimas com as seguintes doações: alimentos, água, roupas, colchões, cobertores, materiais de higiene pessoal e materiais de limpeza. 

Pontos de coleta de ajuda:

  • Capela Nossa Senhora de Fátima (Ponto de Apoio)
    Rua Amanda 620, Vila Betânia, Bairro Betânia
    Gladson Reis – Tel: 99406 5495
  • DCastro Informática
    Av. Mário Werneck, 2392 Romulo Belfort – Tel: 3377-2200
  • Super Som Acessórios
    Av. Mário Werneck 2641 (dentro do estacionamento do supermercado Super Nosso)
    Adelvar – Tel: 3378-5050