Por Ney Felipe

Você sabia que um espelho pode demorar um milhão de anos para se decompor? Por isso, o assunto Coleta Seletiva é preocupação mundial, uma vez que materiais como o espelho, se descartados de maneira incorreta, levam muito tempo para se degradarem e, com isso, trazem prejuízos à natureza. O hábito da coleta, então, ajuda a reduzir o impacto que a produção de lixo causa ao meio ambiente e vem ganhando cada vez mais destaque.

De acordo com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), no ano de 2017, em Belo Horizonte, a quantidade de materiais recicláveis coletados, como papel, metal, plástico e vidro, foi de, aproximadamente, 7.300 toneladas. Ou seja, quase 608 toneladas por mês.

Ainda segundo a SLU, em Belo Horizonte, duas modalidades de coleta seletiva são realizadas atualmente. A primeira modalidade é a “ponto a ponto”, em que se pressupõe que a população separa os recicláveis como papel, metal, plástico e vidro, em sua fonte geradora (residência ou local de trabalho) e os deposite em contentores instalados pela prefeitura em locais estratégicos da cidade, conhecidos como Locais de Entrega Voluntária (LEV). A segunda modalidade é a “porta a porta”, que a população segrega, em seu domicílio, os mesmos recicláveis e os acondiciona juntos no mesmo saco plástico expondo-o no passeio para o recolhimento semanal, em dia e horário pré-determinados pela SLU.

No bairro Buritis, desde 2007, acontece o recolhimento de materiais recicláveis por meio da modalidade “ponto a ponto”. Contudo, os moradores, com o auxílio da Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB) compraram esta ideia no ano de 2004, quando fundaram o projeto “Recicla Buritis”. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Cooperativa dos Catadores da Região Oeste (Coopemar) e a Associação.

A cooperativa que recebe o material fica encarregada de sua segregação, armazenamento, enfardamento e comercialização. Os recursos provenientes dessas atividades são distribuídos entre os associados e/cooperados, de acordo com critérios definidos no regimento interno das entidades a que se encontram vinculados.

A iniciativa

Francisco Pimentel, artesão, faz parte da ABB e é um dos idealizadores da coleta seletiva no bairro Buritis. Segundo ele, o WhatsApp é um grande aliado. O morador sempre disponibiliza as cartilhas informativas na rede social um dia antes do caminhão da SLU passar pelas ruas do bairro. “A coleta seletiva é um serviço muito importante, o lixo limpo (material reciclável) é levado ao seu destino correto. Há muitos materiais que podem se transformar e retornar ao nosso dia a dia”, enfatiza. Ele explica ainda que este ato gera uma grande economia, como a de energia na produção de novos produtos. “Hoje, a produção de material bom cresce dia a dia. O ser humano produz muito mais lixo, mas, em qualquer lugar que você vai atualmente é possível comprar produtos embalados com produtos recicláveis. Se não há coleta, onde iriam parar estes itens? Precisamos educar e fazer com que a comunidade compre a ideia de trabalhar mais nesta parceria com a Coopemar/SLU”, completa.

Para que a comunidade participe mais ativamente desse processo, basta que ela, todas as segundas-feiras, deixe seus materiais recicláveis nas calçadas corretamente. Esse serviço garante o destino correto e transforma a vida das mais de 40 famílias que vivem do trabalho na Coopemar. Muitas dessas famílias, formadas por pessoas ex dependentes químicas e ex moradoras de rua, hoje vivem com a expectativa de terem uma vida melhor. Todo material coletado no Buritis é destinado a essa cooperativa e, quanto maior a adesão, menos lixo os depósitos de compostagem recebem.

Para Francisco, o Buritis ainda pode crescer quanto ao assunto reciclagem. O morador aproveita para informar aos outros moradores da região, sobre como podem participar deste projeto de coleta seletiva: “Deixar seus materiais bons na calçada todas as segundas-feiras é um trabalho de “formiguinha”, de ser passado de boca a boca, e isso a ABB tem procurado fazer. Mas, ainda precisamos melhorar essa coleta. Por isso, estou em contato com a Gerência da SLU para que esse caminhão percorra o bairro Buritis em sua totalidade, uma vez que é preciso ampliar mais essa abrangência. Um detalhe que acontece inúmeras vezes é que, infelizmente, há muitos atravessadores. Essas pessoas muitas vezes chegam antes e recolhem o “filé” dos materiais recicláveis, deixando um material mais inferior. É difícil controlar esses atravessadores, mas faz parte. Afinal, eles também estão dando um destino correto ao material recolhido”, informa o morador.

Quais benefícios a coleta seletiva traz para a população?

Veja abaixo alguns benefícios listados pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU)

  • A diminuição e a prevenção de riscos na saúde pública, uma vez que os resíduos não são destinados a lixões ou aterros sanitários.
  • A diminuição e a prevenção de impactos ambientais: Os materiais descartados corretamente não ficam nos rios e no ambiente por longos períodos.
  • A diminuição e a prevenção da exploração dos recursos naturais: com o retorno dos materiais ao ciclo produtivo, não é necessário que novos recursos naturais sejam utilizados.
  • Redução de gastos: na limpeza urbana, no tratamento de doenças, no controle da poluição, na construção de aterros sanitários, na remediação de áreas degradadas, com a energia elétrica, entre outros.
  • Inclusão e interação social: a geração de ocupação e renda para a população de baixa renda torna as pessoas agentes sociais que contribuem com a limpeza da cidade e a conservação do meio ambiente. Por outro lado, as pessoas que fornecem o material reciclável podem ser vistas como solidárias e participativas nos programas de coleta seletiva e reciclagem. Assim, ambos os grupos estão exercendo a sua cidadania.
  • Educação ambiental: com a prática da coleta seletiva, as pessoas observam resultados imediatos e mensuráveis de sua ação na busca pelo desenvolvimento sustentável e conservação dos recursos naturais, promovendo a expansão deste compromisso às pessoas a sua volta e também a elas mesmas.