Por Alexandre Santos 

A pandemia, ocasionada pelo novo coronavírus (SARS-Cov 2), trouxe novamente para debate uma série de pautas de extrema relevância, dentre elas as fakes news. O uso de medicamentos sem prescrição médica e os componentes e efeitos colaterais da vacina, por exemplo,  são tipos de informações falsas comumente compartilhadas pelas redes sociais. 

Um estudo divulgado pela Associação Médica Brasileira (AMB) revela que  91,6% dos médicos acreditam que as fake news são prejudiciais na luta contra a Covid-19. Os entrevistados argumentam que, por consequência das notícias falsas, muitos pacientes têm dificuldade de aceitar as decisões dos profissionais de saúde e contribuem para o desprezo das medidas de isolamento, o que gera mais acometidos pela doença. 

Sobre isso, o jornalista Alexsandro Ribeiro pondera que a circulação de notícias falsas ligadas à saúde pode gerar reflexos para a saúde. No contexto da covid-19, a desinformação pode corroborar, por exemplo, para o consumo de medicamentos que não têm eficácia cientificamente comprovada pelo meio científico  no tratamento da doença, o que, além de pôr a vida do acometido em risco, afeta quem de fato necessita do fármaco. 

“Existem pessoas que necessitam de certos medicamentos. No ano passado, quando começou essa onda do consumindo da cloroquina e outros insumos, para tratamento precoce, como se tivessem eficácia contra a covid-19 comprovada, o que não é verdade, as pessoas que sofrem de lúpus, por exemplo, ficaram sem o medicamento”, elucida o comunicólogo. 

O professor de sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Yuri Castelfranchi, também opina sobre o prejuízo causado pela desinformação em tempos de pandemia. 

“Uma informação falsa não só pode impactar negativamente, como já impactou. O que temos observado é o uso em excesso de medicamentos que não possuem eficácia contra o coronavírus, como a corticoide (anti-inflamatório). Muita gente estava usando para tratar a covid, o que aumenta o risco de morte”, propõe o acadêmico. 

O PERIGO DA DESINFORMAÇÃO

Nos últimos anos muito tem-se falado sobre Fake News, mas você sabe o que a expressão significa? O termo, que em tradução livre quer dizer “notícia falsa”, é usado para se referir às informações inverídicas, de procedência duvidosa, que se espalham rapidamente na internet como se fossem verdadeiras a fim de enganar e difamar. 

A expressão, apesar de existir no dicionário desde o século XIX, passou a ser popularmente conhecida durante a corrida presidencial estadunidense de 2016, que culminou na vitória do empresário Donald Trump. Na época, foram encontrados diversos sites com notícias falsas, em alguns casos envolvendo a concorrente de Trump, Hillary Clinton. O responsável por descobrir os sites foi o editor de mídia do Buzzfeed, Craig Silvermann. Em entrevista à BBC News, o jornalista conta que chegou a identificar  cerca de 140 sites de notícias falsas. 

Donald Trump em 2016 durante um comício (Foto: Gage Skidmore/Flickr)

Um estudo divulgado pelo Panorama Mobile Time/Opinion Box – Mensageira do Brasil revela que 88% dos usuários do aplicativo de conversa, WhatsApp, já receberam informações falsas pelo aplicativo. Dos entrevistados, 81% têm 50 anos ou mais. A pesquisa também aponta que 33% dos usuários já compartilham informações sem checar a veracidade. Segundo a divulgação, 29% dos entrevistados que já compartilharam informações sem verificar estão entre 16 e 49 anos, e 44% possuem 50 anos ou mais. 

O professor Yuri Castelfranchi acredita que existam fatores sociais, econômicos e religiosos que influenciam mais as pessoas a acreditarem em fake news. O professor observa que cada grupo na sociedade tem sua especificidade que colabora ou não para o crédito de informações falsas, o que dificulta no combate às fake news.  

“Descobrimos nos nossos estudos, no Brasil e no mundo, que o que contribui para as pessoas acreditarem em fake news e teorias da conspiração depende do tipo de fake news. Por exemplo, no Brasil, o que leva uma pessoa a acreditar em notícias falsas relacionadas à vacina é o capital cultural, não só o acesso à educação, mas o tipo de familiaridade que a pessoa tenha a livros. As pessoas que têm mais chance de acreditar na inexistência das mudanças climáticas, por exemplo, são conservadoras do ponto de vista político”, pondera o professor.

A dona de casa, Wilma Maria (77), moradora do Jardim América, bairro de classe média localizado na Região Oeste de Belo Horizonte, conta que seu principal meio para consumo de notícias é a televisão. Professora aposentada e evangélica, Wilma tem o costume de acompanhar o noticiário da Rede Super, um canal de televisão ligado à Igreja Batista da Lagoinha, com sede em BH. Além de consumir notícias por meio das redes sociais. “Também consumo pelo Facebook. Sempre que estou navegando, me deparo com notícias sobre a pandemia”, relata.

Apesar de evitar notícias de cunho político, por não saber qual a intenção por trás da informação, a professora aposentada não se restringe ao compartilhar os links que recebe por WhatsApp por confiar em seus remetentes. “Eu sempre recebo notícias por meio de pessoas confiáveis, por isso eu leio e compartilho bastante mesmo sem verificar se são verdadeiras. Às vezes sou alertada pelos meus netos sobre compartilhar certas notícias sem checar a veracidade, principalmente sobre política”, afirma.

Wilma explica que, mesmo confiando e compartilhando as notícias que recebe no aplicativo de conversa, tem o cuidado de ler a matéria na íntegra antes de repassar o link adiante. “Não sei dizer se já caí em alguma fake news, com certeza já. Mas não tenho o costume de compartilhar notícias apenas lendo o título, eu gosto de saber o que estou compartilhando”, finaliza a dona de casa.

Imagem ilustrativa (Foto: Tirachardz/Reprodução Freepik)

CHECANDO INFORMAÇÕES

Com a alta circulação de notícias falsas, a responsabilidade de verificar a veracidade das informações que chegam até nós nunca foi tão importante. Pensando nisso, a fim de combater o rápido alastramento de fake news, algumas empresas de comunicação decidiram criar um canal aberto de diálogo com o público pelo WhatsApp, por onde é possível enviar a informação recebida por meio das redes sociais e checar sua veracidade. Confira a seguir: 

 

  • AFP Checamos: (21) 98217-2344 – O canal é uma iniciativa da agência francesa France-Presse, em português, que realiza a checagem de conteúdos por WhatsApp
  • Fato ou Fake: (21) 99474 -1741 – A iniciativa do Grupo Globo reúne jornalistas de diversas empresas da organização a fim de verificar a veracidade das notícias. Aos Fatos: (21) 99747- 2441 – Fundado em 2015, o Aos Fatos é um canal de jornalismo independente direcionado a checar a veracidade dos discursos políticos. 
  • Comprova: (11) 97795 – 0022O Comprova reúne jornalistas de 28 veículos diferentes com o objetivo de identificar e enfraquecer a disseminação de conteúdo enganoso. 
  • Agência Lupa: (21) 99193 – 3751– Fundada em 2002, a agência Lupa é a primeira agência de notícias brasileira a se especializar na técnica fact-checking
  • Estadão Verifica: (11) 97683 – 7490 – O Estadão Verifica é o núcleo de checagem de fatos do jornal O Estado de S.Paulo. A equipe é formada pelos jornalistas Daniel Bramatti, Alessandra Monnerat, Tiago Aguiar e Pedro Prata.