Por Alexandre Santos 

A cidade é um organismo vivo, está constantemente sujeita a transformações e repleta de histórias. Mas você já parou para se perguntar a história por trás dos edifícios do seu bairro? Se não, deveria. Eles têm muito mais a nos contar do que podemos imaginar. As edificações presentes em um bairro dizem muito sobre a comunidade local e as famílias que fizeram parte da construção histórica daquele lugar. 

O professor doutor Liszt Vianna Neto, historiador da arte e da arquitetura, explica que, além do valor como fonte histórica, reveladora da atividade humana para historiadores, a história de um edifício é formadora da memória e das identidades coletivas, o que pode oferecer subsídios para políticas de incentivo à cultura, preservação do patrimônio cultural e turismo.

Liszt ressalta que, a partir das características de um edifício, é possível extrair não só informações diretas e objetivas, mas uma série de informações sobre o contexto histórico e social da comunidade ao seu entorno.

“Podemos pensar que as características arquitetônicas de um edifício nos revelam apenas informações mais diretas e objetivas, tais como a cronologia ou a autoria de um projeto. No entanto, um universo de informações pode ser extraído de um edifício: informações sobre o cotidiano de quem o ocupa, as relações sociais que ali se estabeleceram, a formação, a cultura e as identidades construídas pela comunidade que o envolveu”, pondera.  

Questionado sobre como incentivar o interesse da população acerca das histórias das edificações ao nosso entorno, o professor reforça a importância de envolver a comunidade na história desses edifícios, para demonstrar que eles fazem parte da vida, das práticas e do cotidiano daquelas pessoas. 

“A divulgação científica e as matérias jornalísticas têm um papel importante nessa aproximação entre a comunidade e o edifício, mas o principal elemento integrador do edifício à comunidade é seu uso –  seja mantendo seu uso original, seja através de novos usos”, pontua. 

Pensando nisso, o Jornal Daqui BH selecionou a história de algumas edificações que fizeram parte da construção da Região Oeste de Belo Horizonte.

HIPÓDROMO PRADO MINEIRO – SEDE DA PMMG

Arquibancada do Prado Mineiro (Foto: BH Nostalgia)

A história do edifício que abriga a sede da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) está diretamente ligada ao nascimento do bairro Prado, localizado na Região Oeste da capital mineira. A planta desenvolvida pela Comissão Construtora da Nova Capital separava a cidade em setores, a fim de organizar os espaços da cidade e, claro, não poderiam faltar ambientes destinados ao lazer da população que viria a habitar Belo Horizonte. Pensando nisso, a comissão desenhou dois espaços, o Parque Municipal e o Hipódromo Prado Mineiro, o primeiro da cidade. 

O Hipódromo foi inaugurado com a presença do então prefeito, Antônio Carlos, e do governador de Minas Gerais, Francisco Salles, em maio de 1906, mas a primeira corrida no local aconteceu apenas dois meses depois, no dia 8 de julho. No entanto, o sucesso do primeiro hipódromo belo-horizontino não durou muito e, em junho de 1911, aconteceu a última corrida de cavalos no local. Poucos anos depois, o local passou a ser um estádio de futebol e se tornou o maior campo de BH,  recebendo partidas de grandes clubes, como América e Atlético Mineiro.

Primeiro voo oficial realizado em Belo Horizonte (Foto: Arquivo/Basílica do Santo Cura D’ars)

O Hipódromo Prado Mineiro, cujo nome é uma homenagem ao político Antônio Prado Lopes Pereira, também foi palco do primeiro voo de avião em Belo Horizonte, no dia 20 de abril de 1912. O italiano Ernesto Darioli foi o responsável por pilotar a nave. 

Por fim, o espaço passou a ser administrado pela PMMG, que instalou no local o Departamento de Instrução (DI), o Batalhão da Polícia Militar e o Clube dos Oficiais.

CINE SÃO JOSÉ – TEATRO KLEBER JUNQUEIRA: 

Fachada do teatro Kleber Junqueira (Foto: Reprodução Rede Social)

Inicialmente um cinema de rua, atualmente o edifício que se destaca na rua Platina do bairro Calafate, também na Região Oeste de Belo Horizonte, dá lugar para um tradicional e aconchegante teatro. 

Inaugurado no dia 16 de maio de 1942, o antigo Cine São José foi um sucesso de público e exibia todos os grandes clássicos de sua época, entre eles, O Fantasma da Ópera. O cinema era dividido em duas partes: no lado esquerdo se acomodavam os espectadores que decidiam pagar mais caro para ter acesso a assentos mais confortáveis, enquanto no lado direito se amontoavam os espectadores que pagavam menos para acompanhar a sessão. 

Após a falência do antigo cinema, que se manteve estável por quase quatro décadas, o local abrigou uma boate, posteriormente uma academia e finalmente deu lugar ao teatro de Kleber Junqueira. Mantido pela Associação Móbile Cultural, que promove espetáculos por toda Belo Horizonte, o teatro conta com a administração do ator mineiro Kleber Junqueira. 

PARÓQUIA DO SANTO CURA D’ARS: 

Basílica Santo Cura D’ars em construção ( Foto: Arquivo/Basílica do Santo Cura D’ars)

Ainda nos primórdios do bairro Prado, as famílias que começavam a ocupar a região erguiam uma pequena capela dedicada ao Senhor Bom Jesus do Amor Divino. E foi com muito esforço e trabalho em equipe que a comunidade local conseguiu unir forças para comprar dois grandes lotes, onde mais tarde seria edificada uma capela maior. 

No dia 10 de julho de 1949, o Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Antônio dos Santos Cabral, assinou o decreto que inaugurou a Paróquia do Santo Cura D’Ars. Na ocasião, marcada por uma grande festa da comunidade local, Cônego João Olímpio Pitaluga foi eleito o primeiro vigário da paróquia. A construção da igreja matriz começou no dia 14 de agosto do mesmo ano, quando a pedra fundamental foi lançada no terreno, ao lado da paróquia. A obra foi lenta e enfrentou diversos percalços ao longo do processo. A sagração do altar-mor aconteceu apenas em 1956, no dia 16 de setembro, pelo Arcebispo Dom Cabral. 

Basílica do Santo Cura D’Ars atualmente ( Foto: Basílica do Santo Cura D’ars)

Foi no primeiro dia de fevereiro de 1986, que o papa João Paulo II elevou a paróquia do Prado ao status de Basílica Menor.