Por Lucas Wilker 

Escuta e acolhimento são duas palavras e conceitos balizadores do Ambulatório de Diversidade, proposta do Projeto de Extensão Mosaico, do Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH. Desde setembro deste ano, equipes formadas por estudantes e professores do curso de Psicologia têm oferecido psicoterapias gratuitas a pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social na cidade de Belo Horizonte.

O Ambulatório funciona na Clínica Integrada da Saúde, instalada no Campus Buritis,  e os acolhimentos são realizados conforme encaminhamento da rede socioassistencial do município.

Professor e coordenador do Mosaico, João Henrique de Sousa Santos explica que, durante a extensão, alguns casos foram atendidos na modalidade on-line, considerando a Resolução do Conselho Federal de Psicologia Nº 11/2018, e outros, presencialmente, na Clínica Integrada de Saúde do UniBH.

“Nossas equipes atendem pessoas em situação de vulnerabilidade social e, portanto, nem todas têm acesso à internet para a realização dos acolhimentos. Essa oportunidade tem contribuído radicalmente para o processo formativo de estudantes. Alunos e alunas têm desenvolvido um olhar mais crítico para a realidade social, compreendendo o lugar da clínica e sua função política junto à sociedade, além do desenvolvimento de uma escuta qualificada para compreender o sofrimento humano em todas as dimensões”, avalia.

É o que também reforça Yanini Magna de Souza Ribeiro, psicóloga recém-formada pelo UniBH e participante do projeto.

“Nossos atendimentos vão além de uma clínica fechada de consultório, porque às vezes pensamos que psicólogos estão restritos a isso. Sou acompanhante terapêutica, já trabalhei com pessoas desospitalizadas também, de manicômios, e um pouco da minha clínica tem esse espaço, que ultrapassa o consultório. Posso fazer na praça, na rua. Às vezes é o acesso que a pessoa tem: algumas não vão conseguir ir até o meu consultório porque não têm dinheiro para passagem”, pondera.

Além de João Henrique, a coordenação dos atendimentos também é feita por Isabella D’Ávila, psicóloga e líder do Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão (NAPI), do UniBH.

Como funciona o treinamento?

Conforme explicado pelo professor João Henrique, semanalmente os estudantes têm encontros de supervisão com os coordenadores para discussão e condução dos casos atendidos. “Nesses encontros nós os auxiliamos na leitura teórico-clínica do caso no campo da saúde mental e as possibilidades de articulação em rede para questões sociais”, realça.

Para Yanini, a supervisão é interessante, sobretudo, para pensar além do que é aprendido na graduação, já que os textos são bem atuais e se conectam às pessoas atendidas.

“Nossa supervisão é na teoria da abordagem psicanalítica, mas não ficamos só nesse âmbito da clínica, preocupados em aplicar teoria o tempo inteiro. Como são pessoas em situação de vulnerabilidade, tem questões que vão ultrapassar uma análise com a pessoa. Estamos ali para acolher as demandas, acolher o sujeito”, reitera.

Somente no segundo semestre de 2021, período em que o Ambulatório teve início, foram realizados cerca de 17 atendimentos. Segundo os coordenadores, a expectativa é que, no primeiro semestre de 2022, sejam realizados 45 atendimentos por semana, o que deve totalizar 180 atendimentos por mês.  “Existe a perspectiva de ampliar a oferta de serviços, de modo a possibilitar uma assistência e cuidado mais amplos à população LGBTIA+ e, consequentemente, aumentar o número de atendidos”, destaca João Henrique.

Inauguração

Diálogo em plataforma online reúne integrantes e articuladores do Ambulatório.

Para marcar a criação do Ambulatório da Diversidade, o Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão (NAPI) do UniBH e o projeto de extensão Mosaico realizaram uma roda de conversa com integrantes de outros serviços à comunidade LGBTQIA+ no dia 9/12. A conversa está disponível no YouTube.

O diálogo contou com a presença dos psicólogos Carú de Paula, coordenador do projeto Acolhe LGBT+, mestrando em Psicologia Clínica pela PUC-SP; Thomaz Oliveira, supervisor do projeto Acolhe LGBT+, cujo trabalho abrange diversas minorias sociais;  Patrícia Oliveira, assessora parlamentar na Câmara Municipal de Belo Horizonte, coordenadora de relações institucionais da ONG Transvest; além de Wagner Lopes, analista de Políticas Públicas e Assistente Social na Prefeitura de Belo Horizonte e atual coordenador do Centro de Referência LGBT do município.

Durante o evento, João Henrique reforçou a importância do Ambulatório.

“Historicamente, a população LGBT se enquadra dentro do que a gente toma como minorias, não em números, mas porque vem sofrendo com violência, preconceito, marginalização, do próprio modo de existir e ser no mundo e esses efeitos de violências, que desde muito cedo a população LGBT sofre, promove interferências e efeitos significativos para o campo da saúde mental”, observou.