Por Luis Otávio Lima Peçanha

Grande parte do que engloba ser criança e/ou jovem é o período de aprendizado e incentivo à criatividade durante o desenvolvimento. Ser curioso, perguntar, querer saber como as coisas funcionam ou por que são daquela maneira são algumas características consideradas até uma “obrigação” para os pequenos.

Durante os primeiros anos de vida, o envolvimento com fatores básicos da vida exerce um papel importantíssimo no desenvolvimento de valências como raciocínio lógico, habilidades motoras, melhora na comunicação e interação social, além do interesse e capacidade de aprendizado.

Porém, existem transtornos que podem acometer de maneira considerável o processo de crescimento das crianças, sendo responsáveis por atrasar o desenvolvimento de habilidades como as citadas acima. Assim, torna-se necessária a procura de um profissional.

OS PRIMEIROS SINTOMAS

É difícil traçar uma regra sobre o período em que os sintomas podem aparecer em função dos diferentes transtornos conhecidos, e que afetam as crianças e os jovens de maneiras distintas. É possível, porém, indicar sinais que podem apontar quadros iniciais destes transtornos.

Larrisa Moreira Santos, psicóloga infantil, enfatiza que, no autismo, por exemplo, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), os sinais são comumente reconhecidos entre 12 e 24 meses, embora possam ser observados antes dos 12 meses completos. 

A psicóloga chama atenção para déficits ligados à interação social, como dificuldade em sustentar o contato visual e baixo índice de resposta ao nome; déficits verbais e não verbais, que causam atrasos na linguagem e na comunicação social; déficits na teoria da mente, que diz da capacidade de inferir hipóteses relacionadas ao outro (O que ele(a) está pensando? O que ele(a) está sentindo?) e, também, interesses restritos e repetitivos, como movimentos estereotipados, falas descontextualizadas e hiperfoco em um assunto ou interesse restrito por um objeto.

Liliane Medeiros, psicóloga infantil, também explica sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que pode acarretar em um atraso considerável na aquisição de habilidades esperadas para cada faixa etária. 

“Os pais devem observar, principalmente, se a criança apresenta baixa interação social, incluindo o contato visual até mesmo quando bebê, repertório limitado nas atividades e comportamentos, e se existe comprometimento da linguagem verbal ou não-verbal”, completa.

COMO AFETAM A ROTINA?

Outra grande dificuldade causada pelos transtornos é tentar entender de que maneira eles podem afetar a vida e a rotina das crianças e, para isso, é necessário entender cada caso primeiro. “Geralmente, as habilidades sociais são prejudicadas em quase todos os transtornos, comprometendo não só as atividades diárias da criança mas os relacionamentos sociais de modo geral, o que precisa ser observado e validado por cada família”, explica Liliane.

Ao falar do TEA, Larissa cita a dificuldade na fala, questões sensoriais e rigidez cognitiva e comportamental como problemas recorrentes e que podem causar prejuízos no seu dia a dia, além de desencadear crises, dependendo da intensidade do quadro. “Por isso, necessita de acompanhamento multidisciplinar feito pela psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, neurologia e psiquiatria, além de uma intervenção de forma intensiva, preferencialmente sendo iniciada precocemente, antes mesmo de fechar o diagnóstico, aumentando, assim, as chances de desenvolvimento dessa criança”, ressalta.

TRATAMENTO PRECOCE

Como reforçou Larissa, o tratamento precoce é considerado um dos maiores aliados da psicoterapia infantil, principalmente por se tratarem de transtornos que interferem diretamente em habilidades do desenvolvimento de crianças e jovens. Garantir um encaminhamento precoce pode auxiliar em uma intervenção do psicólogo no quadro, aumentando a possibilidade de reversão ou controle dos sintomas.

As psicólogas explicam que, durante este processo, o importante é capacitar a criança e o jovem para proporcionar autonomia, buscando melhorar os sintomas disfuncionais, visando o bem-estar, a necessidade e a gravidade de cada caso. 

“Quando se tem o acompanhamento adequado para cada caso, existem intervenções adequadas e orientação não somente da criança, mas da família, o que visa modificar esse curso que o diagnóstico traça. E independente do tempo de psicoterapia, o foco deve ser em proporcionar expectativas mais adequadas em relação às capacidades de cada criança e adolescente”, orienta Liliane.

“Após o controle do quadro e a amenização de sintomas prejudiciais, ainda consideramos que a pessoa esteja dentro do espectro, porém, com a aquisição de maior autonomia, pode ser liberada do acompanhamento fonoaudiológico e da terapia ocupacional. E seguindo, então, com sessões de terapia para manutenção, caso haja necessidade. Considerando que ainda podem aparecer características do espectro autista, uma vez que não existe cura por não ser uma doença”, completa Larissa.