Por Tariq Augusto

Em meio à pandemia de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, muitas pessoas tiveram que mudar a rotina de atividades físicas devido ao isolamento social. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, publicou um decreto, no dia 18 de março, que suspende os alvarás de vários estabelecimentos da capital mineira, entre eles, as academias.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, quem pratica atividade física ao ar livre também não foge dos riscos de contaminação pela Covid-19. No bairro Buritis, região Oeste de Belo Horizonte, a pista de cooper, localizada na Rua Henrique Badaró Portugal, fica movimentada diariamente, mesmo após a determinação de isolamento da Prefeitura. O bairro é o segundo com maior número de casos confirmados em BH, conforme dados divulgados pela PBH, no último dia 12.

Nesta quarta-feira (20), a equipe do Jornal DaquiBH passou pela pista e testemunhou  pessoas fazendo exercícios sem respeitar o distanciamento social e o uso obrigatório de máscaras.

Segundo um morador do bairro, que preferiu não se identificar, o motivo do grande movimento é o fechamento das academias. “O fato das pessoas não usarem máscara eu já considero irresponsabilidade, é pensar no próprio umbigo. Isso me incomoda”, afirmou.

A assessoria de imprensa da Guarda Civil Municipal de BH afirmou que a fiscalização tem encontrado muita resistência de moradores de locais de alto padrão. “Entretanto, as equipes estão trabalhando em todas as regionais, com avisos sonoros, orientação e distribuição de máscaras”, complementou o órgão.

MUDANÇA NA ROTINA

Por outro lado, tem quem se reinvente, altera a rotina de atividades para respeitar o isolamento social e, agora, se exercita dentro de casa. É o caso da arquiteta, Daniela Machado, que treinava em uma academia do bairro Buritis há cerca de 8 anos. “No início, fiquei preocupada, porque não queria parar de malhar, foi aí que procurei nas redes sociais vídeos de pessoas treinando em casa, utilizando o peso do próprio corpo. Comecei assim e fui adaptando com as séries que já fazia na academia, com orientação de profissionais da área”, conta.

Sobre o retorno à academia, ela afirma que só voltará porque o objetivo é a hipertrofia, que seria o aumento da massa muscular. “Consigo treinar tranquilamente em casa, não preciso sair, nem mesmo para fazer aeróbico. A academia virou um plus, porque tem aulas coletivas e equipamentos com peso”, concluiu.

E AS ACADEMIAS?

Com os espaços destinados às atividades físicas fechados, donos de empreendimentos do setor estão preocupados com os prejuízos e a demissão de funcionários. O empresário Vinicius Machado está com sua unidade fechada desde o dia 18 de março.

“Como nós trabalhamos com saúde, nosso propósito é entregar qualidade de vida para os alunos. Não fazia sentido manter aberto sabendo que já havia mortes confirmadas no Brasil. Muitos alunos acabaram cancelando a matrícula ou suspendendo a renovação”.

Ainda segundo o empresário, o faturamento já caiu mais de 40%. “Estamos tentando reverter essa situação, criando planos especiais com descontos para renovação. Começamos também com aulas online, ficando mais próximos da experiência que os alunos já tinham, com supervisão dos professores, e até mesmo emprestando kits de equipamentos”, explica Vinícius. Até o momento, ele não precisou dispensar nenhum funcionário, porém, todos os contratos de trabalho foram suspensos.

ENTENDA OS RISCOS

Com o número de casos confirmados e óbitos aumentando, o Ministério da Saúde recomenda evitar aglomerações, manter distanciamento entre as pessoas, lavar as mãos constantemente, utilizar álcool em gel 70% e, desde o dia 22 de abril, se tornou obrigatório o uso de mascarás em Belo Horizonte.

O infectologista Guenael Freire explica os riscos de praticar atividades físicas ao ar livre durante esse período e orienta sobre os cuidados até dentro de casa. Confira a entrevista completa cedida ao Jornal DaquiBH. 

Guenael Freire, médico especialista em infectologia. Foto: arquivo pessoal.

Quais são os riscos para quem insiste em fazer atividade física ao ar livre?

Uma pessoa que pratica atividade física ao ar livre fica sujeita a aglomeração e entra em contato com outras pessoas também. Ela, muitas vezes, tem dificuldade de ajustar a máscara na face ou simplesmente não utiliza, por causa da respiração, que fica mais profunda, com maior frequência, e isso dificulta. Além disso, vai na contramão do distanciamento social, porque estimula uma atividade que não é essencial. É importante atividade física para manutenção e recuperação da saúde, mas neste momento temos que nos ater ao que é mais necessário.: ficar em casa, evitando contato com outras pessoas, o máximo que podermos.

Mesmo quem está dentro de casa está vulnerável aos riscos de contaminação? Quais os cuidados?

O primeiro cuidado é ao entrar: retire os sapatos ou higienize com uma solução de água sanitária. Não tocar em ninguém, até fazer a correta higienização das mãos. Se possível, já entre para o banho. A roupa, deixe em um saco plástico e evite tocá-la, coloque para lavar.

Para quem necessita sair de casa, quais as dicas de prevenção?

De preferência, use um sapato só para sair de casa, utilize máscara e evite se aproximar de pessoas que não estão utilizando. Pode ser uma máscara de tecido com dupla camada, que possa cobrir a boca e o nariz, bem fixada. Ela no pescoço não protege. Higienização da mão com bastante frequência, ao tocar qualquer superfície, por exemplo. Se possível, com água e sabão, se não estiver disponível, pode ser álcool em gel 70%. Se for tossir, cubra a boca com o cotovelo e não toque o rosto. Caso precise ir a um supermercado, local com grande movimento, procure ir em horários alternativos.

No inverno, pode haver um agravamento da doença?

Sim, mas ainda não se sabe qual será a dinâmica do vírus nesse cenário. O que preocupa são os outros vírus respiratórios que circulam demais nessa época, que podem complicar uma Covid-19, com uma infecção concomitante. Pode causar mais quadros de doenças respiratórias, de modo a sobrecarregar o sistema de saúde e dificultar o diagnóstico.

O grupo de risco é mais suscetível à doença e pode sentir sintomas até mais graves. Quem não está nesse grupo, pode sentir o mesmo?

Não, todo mundo adoece, todos estão sujeitos. Na maioria das vezes a pessoa nem vai apresentar sintomas. Os idosos e pessoas que têm outras doenças acabam tendo um risco maior de desenvolver a forma grave do vírus.

Há pessoas que já foram contaminadas e se recuperaram, mas tiveram exames positivos depois de um certo tempo. Sendo assim, pode haver uma reinfecção?

Isso não significa que a pessoa foi curada, qualquer fragmento viral pode tornar o teste positivo. Mas, não significa que esse fragmento seja transmissível, porém, é necessário cuidado em relação a isso.

Qual mensagem o senhor deixa como recomendação?

Recomendo que as pessoas continuem a praticar o distanciamento social e o isolamento social, se puder. A gente tem observado algumas flexibilizações, mas peço para insistir em apenas se descolar em caso de necessidade. Muitas das atividades que fazemos fora de casa são possíveis de serem realizadas na nossa própria residência. Os serviços de delivery estão aí para o nosso benefício nesse momento. Ainda não sabemos quando será o pico da doença, estamos na trajetória ascendente de casos e todo cuidado é pouco.