Por Thayanny Campos

Criado em 1987 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o dia 31 de maio é marcado como o Dia Mundial sem Tabaco. O objetivo é oferecer informações importantes para que as pessoas se conscientizem sobre os malefícios que o ato de fumar pode oferecer para todas as pessoas, sejam elas tabagistas ou não.

Segundo dados do Vigitel de 2018, Sistema de Vigilância de Fatores de Risco Para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) do Ministério da Saúde, a porcentagem de fumantes no Brasil era de 19%. Desses, 12,1% eram homens e 6,9% eram mulheres.

Dentre a parcela de fumantes nas capitais brasileiras, a cidade de Belo Horizonte ocupava a 6ª posição, na qual a porcentagem de tabagistas chegou a 10,8%.

Capitais brasileiras com maior porcentagem de tabagistas – Fonte: Ministério da Saúde/2018

Diante de tal cenário, é de suma importância reforçar que o hábito de fumar é responsável pelo desenvolvimento de mais de 50 doenças, que vão desde problemas respiratórios – como bronquites, asma e enfisema pulmonar, até diversos tipos de cânceres. Dentre eles, o mais comum é o de pulmão que, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é responsável por mais de 23.700 mortes anuais.

PERFIL DOS FUMANTES

A pesquisa do Ministério da Saúde mostra que a maior parte dos fumantes está entre as pessoas com idade de 55 a 64 anos, somando um índice de 12,3%. Os menos escolarizados são os que mais fumam: 13% dos entrevistados com até 8 anos de escolaridade dizem ser fumantes. O menor percentual de fumantes está entre os que tiveram oportunidade de estudar por 12 anos ou mais, com porcentagem igual a 6,2%.

Cláudia Felipe (55), moradora do Bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte, conta que um dos maiores motivos que a levou a abandonar o vício foi quando o seu filho pediu que ela parasse de fumar. Cláudia começou a fazer o uso do cigarro ainda na adolescência, por volta dos seus 15 anos de idade. Ao engravidar, ela sempre preservava a gestação e não fumava, mas após o período de amamentação, ela retornava a usar cigarro. Hoje, graças ao seu filho, ela se vê livre do vício.

“Comecei a fumar com uns 15 anos mesmo. Com uns 13 brincava de fazer bolinha e assim foi.  Fumava pouco, quando saía, e no trabalho nunca fumei. Casei e quando fiquei grávida parei. Amamentei por 1 ano e 5 meses, aí voltei. Fumei mais uns 9 anos, pouco, 2 ou 3 cigarros por dia, mas final de semana uns 8 por dia. 10 anos depois, com 38 anos, engravidei novamente e parei por mais 5 anos até parar de amamentar. Voltei e meu filho pediu para eu parar e até hoje não uso mais cigarro”.

OS EFEITOS NOCIVOS DO CIGARRO PARA A SAÚDE

As mais de 4.700 substâncias tóxicas presentes no cigarro, incluindo nicotina, amônia, cetonas e alcatrão, quando em contato com o corpo, podem trazer enormes prejuízos para o organismo. Além de afetar a imunidade, o cigarro pode favorecer o envelhecimento da pele e prejudicar a coloração do esmalte dos dentes e das gengivas.

O cardiologista Drº Leandro Teixeira explica que o cigarro ainda pode trazer alguns efeitos colaterais no organismo e comprometer significativamente as fertilidades masculina e feminina, além de influenciar na saúde óssea.

“O tabagismo é fator de risco de outras doenças que acarretam morbidade e incapacitação significativas, como Infecções do Trato Urinário (ITUs) de repetição, infertilidade, disfunção erétil, menopausa precoce, úlcera péptica, osteoporose, fraturas de quadril e periodontite”, explica Dr Leandro Teixeira. 

Além desses prejuízos, outros efeitos como cansaço com mínimos esforços, também são alguns dos principais sinais apresentados por muitos tabagistas. É o que conta a ex-fumante Sônia Aparecida (51), que reside no bairro Palmeiras, região Oeste de Belo Horizonte.

“Fumei por 20 anos, e durante esse tempo eu chegava a fumar de 5 a 10 cigarros por dia, aos finais de semana eu chegava a fumar quase dois maços por dia. Eu sentia muito mal-estar, cansaço e apresentava muita tosse, desde que parei de fumar minha qualidade de vida tem melhorado muito”.

ABANDONAR O VÍCIO, PASSO IMPORTANTE PARA UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA 

Parar de fumar é pensar na saúde acima de qualquer coisa, mas tomar essa decisão não é uma tarefa fácil para os tabagistas. Algumas substâncias do cigarro promovem prazer e satisfação. Situações como ansiedade, nervosismo e uso de bebidas alcoólicas são alguns gatilhos que fazem com que muitas pessoas fumem de maneira desenfreada.

Assim como abandonar qualquer vício, deixar de fumar pode ainda trazer alguns efeitos colaterais, como o estresse. Por isso, procurar apoio médico para o enfrentamento da abstinência é fundamental. É o que explica a psiquiatra Kelly Robis:

“O tratamento do tabagismo deve, quase sempre, envolver suporte multiprofissional por meio de prescrição de medicamentos associados às medidas comportamentais e grupos de apoio. Existem muitas medicações que podem ser úteis no tratamento desse problema, como os adesivos de nicotina e alguns medicamentos antidepressivos. Essas medicações podem auxiliar na redução dos sintomas de abstinência nas primeiras semanas até a interrupção”.

Sonia Aparecida, que há 6 anos não faz mais uso do cigarro, conta que o primeiro passo para vencer o tabagismo é ter disposição:

“Primeiro a pessoa tem que estar disposta, sem ajuda é muito difícil. Os postos de saúde têm o dia do tabagismo, que ocorre uma vez por semana, com acompanhamento de psicólogo e medicamentos. Durante o tratamento eu usei pastilhas Niquitin, não precisei de ajuda médica e nem de antidepressivos. O uso das pastilhas e do adesivo que usei por 30 dias foram suficientes. Super indico, mas nem todos conseguem sem auxílio médico”.

De acordo com o cardiologista Drº Leandro Teixeira, para aqueles que desejam parar de fumar, uma alternativa é começar conversando com um especialista. O médico acrescenta, ainda, algumas dicas para os tabagistas que pretendem abandonar o vício:

“Uma boa ideia começar conversando com seu médico. É possível sair por conta própria, sem ajuda.  Mas obter ajuda aumenta muito suas chances de sair com sucesso.”

  1. Defina uma data para sair
  2. Diga a sua família e amigos que você pretende sair
  3. Planeje com antecedência os desafios que você enfrentará, como os desejos de cigarro
  4. Remova os cigarros de sua casa, carro e trabalho

A psiquiatra Kelly Robis complementa que o ideal é criar uma rede de apoio, inicialmente tomando conhecimento dos possíveis prejuízos do hábito de fumar e a reflexão sobre os ganhos associados à mudança de hábito.

“Ouvir relatos das pessoas que pararam de fumar, conhecer os benefícios que foram obtidos em consequência do novo estilo de vida. É muito importante entender que existirão obstáculos e, por isso, formular estratégias junto com um profissional especializado”, explica.

AÇÕES DE COMBATE AO FUMO 

Reunião do Programa de Controle ao Tabagismo – foto de Avanilton de Aguilar/PBH

Além dos tratamentos médicos, alguns estados brasileiros vêm adotando uma série de ações para minimizar o tabagismo. Reflexo disso é a queda de 40% no número de fumantes no país nos últimos 12 anos, segundo a mesma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde em maio de 2019.

Para os moradores da capital mineira, a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte oferece o Programa de Controle do Tabagismo, em que, por meio de palestras, consultas médicas e acompanhamento, é possível tratar o vício.

O tratamento é feito mediante 10 sessões, que ocorrem da seguinte forma: no primeiro mês são 4 sessões semanais, 2 sessões a cada quinze dias e uma reunião mensal do terceiro ao sexto mês. Os benefícios desses programas são gigantescos, além da melhora na qualidade de vida.

Para quem deseja parar de fumar e quer ser beneficiado com esse serviço, basta procurar o Centro de Saúde mais próximo da sua residência e manifestar interesse pelo Programa de Controle do Tabagismo. Cuidar da saúde também é um ato de responsabilidade. Diga adeus ao cigarro e sim à vida!

SERVIÇO: PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O PROGRAMA DE CONTROLE DO TABAGISMO, LIGUE PARA 3277-9532/9551.