Por Matheus Rocha

Desde o dia 19 de março, quando o prefeito Alexandre Kalil decretou a suspensão das atividades nas instituições de ensino em Belo Horizonte, diversos setores e profissionais ligados direta ou indiretamente com a educação sofreram mudanças.

Nesse cenário, o setor de transporte escolar foi um dos mais afetados. Em portaria publicada pelo PROCON-MG no dia 22 de abril, orientações para contratantes e fornecedores do serviço amparam, por exemplo, o rompimento do contrato por parte dos clientes sem cobranças adicionais. Para ver nota completa, clique aqui

A falta de aulas presenciais e de estudantes influencia diretamente nas vidas dos profissionais do transporte escolar. Segundo o motorista Márcio José, de 46 anos, que há 20 trabalha com veículos escolares, a situação para os profissionais é delicada.

“Ficamos em uma situação delicada, pois o Procon de BH soltou um vídeo dizendo que os pais poderiam fazer o cancelamento do contrato […] e alguns motoristas, como eu, não conseguiram ajuda do governo”.

Em consequência às orientações do PROCON e do Ministério Público de Minas Gerais, a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou, no dia 23 de abril, a distribuição de cestas básicas para 1770 famílias de transportadores escolares. Mas, segundo o presidente do Sintesc (Sindicato dos Transportadores Escolares da Região Metropolitana de BH), Carlos Eduardo Campos, a ajuda foi concedida apenas para trabalhadores autônomos e pessoa física, desamparando os micro e pequenos empresários. Ouça:

IMPACTOS NO TRANSPORTE ESCOLAR

Em entrevista ao Jornal DaquiBH, o presidente do Sintesc traçou os danos gerados à classe. Segundo ele, 70 % dos contratos foram cancelados, enquanto nos 30% restantes, os clientes pagam apenas metade do valor inicial.

Carlos ainda disse que o auxílio da Prefeitura com as cestas básicas, embora de grande valia, não é o suficiente para atender os 2500 profissionais cadastrados. Segundo ele, a classe conta com aproximadamente 600 micro e pequenas empresas, que não são atendidas pelo benefício.

Além disso, Carlos também comenta sobre a ação das escolas. Segundo ele, não há qualquer tipo de auxilio por parte das instituições de ensino.

ALTERNATIVAS PARA O SETOR

Enquanto não existem previsões de retorno das aulas, motoristas e empresários buscam novas formas de trabalho.

Principal instituição de apoio a empreendedores brasileiros, o Sebrae divulgou uma série de medidas que podem auxiliar os prestadores de serviço e contratantes. Dentre as ações, estão adaptar os veículos e profissionais para serviços de delivery, ou mesmo transporte de clientes a bares e restaurantes, após a abertura desses estabelecimento.

Outra preocupação é relativa ao retorno das atividades. Segundo o Sebrae, um possível retorno com um maior controle acerca da lotação dos veículos pode gerar maiores custos na locomoção e manutenção dos carros, uma vez que os motoristas teriam que percorrer os mesmos trajetos repetidas vezes para atender todos os alunos. Para acompanhar o artigo completo, clique aqui.

Entretanto, essas não são as únicas possibilidades de trabalho para o setor. Segundo Carlos Eduardo, existe uma possibilidade de negociação entre o sindicato dos transportadores escolares e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) para realização do deslocamento de funcionários do comércio, com valor abaixo do cobrado pelas empresas de ônibus.

Outra possibilidade seria utilizar os veículos operando como complemento ao transporte coletivo. Essa ação é exemplo na cidade de São José da Lapa, onde a prefeitura autorizou as vans e ônibus a atuarem em horários e trajetos pré-estabelecidos.

MENOS VEÍCULOS, MENOS ACIDENTES

Palco de constantes reclamações por toda cidade, o trânsito também sofreu fortes alterações com o isolamento social. Em levantamento realizado pelo Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais, a pedido do Jornal DaquiBH, Belo Horizonte registrou, entre janeiro a abril, quase 5 mil acidentes de trânsito a menos que o mesmo período no ano passado.

O número de acidentes com vítimas caiu de 4.107 em 2019, para 3.363 em 2020, uma redução de 18,1%. Já os acidentes sem vítimas, reduziram de 21.740 para 17.545, mostrando uma queda de 19,3%.

Na região Oeste, o trânsito também era motivo de problemas. No último levantamento feito pela prefeitura, em 2018, as principais avenidas da região acumulavam um grande número de ocorrências. A recordista é a avenida Tereza Cristina, que concentrava 245 ocorrências, sendo 47 delas apenas no trecho localizado no bairro Betânia.

Em sequência, no número de acidentes, vêm as avenidas Raja Gabáglia, com 88 casos, Barão Homem de Melo, com 82 e Professor Mário Werneck, com 36 ocorrências. O Anel Rodoviário não foi considerado no levantamento.

MORADORES OBSERVAM MUDANÇAS NO TRÂNSITO 

Como já foi citado, o trânsito na região Oeste era considerado um grande problema. Entretanto, com o isolamento social, alguns moradores já observam mudanças na paisagem das ruas locais.

Em pesquisa feita pelo Jornal DaquiBH, com moradores da região, foi observado que 50% dos entrevistados classificam o trânsito local como bom ou ótimo durante a pandemia, enquanto nenhum deles classificou da mesma forma antes do isolamento social, como é possível ver nos gráficos abaixo.

Pesquisa de opinião de trânsito na Região Oeste. Por Matheus Rocha.

Outro fator relevante é a forma como o transporte escolar influencia no trânsito. De acordo com a pesquisa, 80,8% dos moradores locais acreditam que as ruas e avenidas ficam melhores sem a presença dos veículos.

Um dos pontos considerados mais conturbados é o Centro Universitário UniBH, no bairro Buritis. Um dos entrevistados, morador da região há 24 anos, afirma que a situação nos entornos do campus é péssima. “Especificamente no Buritis, o trânsito piora muito com as aulas no UniBH, de ruim passa para péssimo.”

Contudo, para Márcio José, a culpa não é inteiramente do transporte escolar. O motorista concorda que existem aqueles colegas imprudentes, porém ressalta que há um grande número de carros particulares que não respeitam as leis de trânsito.

“Realmente existem alguns motoristas escolares imprudentes […] mas não vamos generalizar, pois acompanhamos também um volume de motoristas de carros particulares que não respeitam as leis de trânsito. Temos que respeitar as leis de trânsito e manter o bom senso.”