Por Iris Aguiar

O dia 25 de maio é o Dia Nacional da Adoção. A data carrega um significado muito importante, já que adotar é criar laços e construir famílias. Neste dia, o Jornal DaquiBH produziu reportagem especial das principais questões que envolvem tal processo, que é também uma forma de fazer nascer novos pais e dar às crianças a oportunidade de receberem amor.

O que é a adoção?

A adoção é o momento em que surgem novos pais e novos filhos. É o momento em que uma família passa a ter mais um membro para amar e cuidar. Muitas crianças ainda estão à espera de um lar e de pais que possam dar a elas uma vida saudável e feliz, assim como existem milhares de pais à procura de um filho, mas o processo não é tão simples.

Mônica Rodrigues, moradora de Belo Horizonte, há quase 21 anos adotou duas crianças recém nascidas, com apenas 1 mês de vida. Essa experiência mudou sua vida e hoje muda a vida de muitas pessoas, através do trabalho que ela realiza.

“Quando casei, descobri um quadro de esterilidade. Sempre quis ser mãe, desde os 9 anos de idade. Amava gêmeos, porque na família da minha mãe tinham gêmeos em todas as gerações, com exceção da minha. Com essa impossibilidade de gerar filhos biologicamente eu recebi um conselho para poder adotar, mas infelizmente meu coração estava cheio de preconceito em relação à adoção”, explica ela.

Com o tempo, Mônica mudou sua concepção. “Entendi que não existe diferença entre filho biológico e filho adotado e que até para ser mãe biologicamente temos que amar nossos filhos. Então fiquei pronta para esse processo”, conta.

Em 1º de outubro de 2000, Mônica entrou com os papéis para a adoção e em dezembro, dois meses depois, estava com suas filhas. “Meu sonho era ser mãe de gêmeas, mas quando entrei com o processo o juiz me alertou que, para uma criança, eu teria no mínimo dois anos de espera. Em dois meses,  estava com minhas filhas nos braços, a Isabela e a Gabriela, gêmeas recém nascidas, exatamente do jeito que eu sempre sonhei”, alegra-se.

Ao perceber o cenário complexo de adoção no Brasil, Mônica fundou o Instituto Adotar, em 2010. “Quando comecei a entender como funcionava o mundo da adoção, vi essa necessidade. Vinte anos atrás, as pessoas não conheciam a adoção, não se falava disso como hoje em dia. Atualmente temos pessoas famosas adotando, fala-se nos jornais sobre essa questão, mas na época que adotei não era assim, então as crianças que iam para adoção eram muito rejeitadas e sofriam muito. Percebi que eu já tinha uma história de vida e que eu precisava compartilhar meu testemunho. Quando fiz isso, minhas amigas se interessaram e adotaram também, depois amigas de amigas adotaram”, ressalta Mônica.

A Instituição trabalha com bebês, crianças e adolescentes das casas de acolhimento, com idosos de asilos e com moradores de rua e ex-moradores de ruas que estão em casas de acolhimento em Belo Horizonte. São 48 casas para bebês, crianças e adolescentes e 11 casas para moradores e ex-moradores de rua.

O Instituto também faz trabalhos socioeducativos com menores infratores, já que, quando os adolescentes fazem 18 anos, e não são adotados pelo perfil, eles são obrigados a deixar os lares. Devido a essa situação, muitos adolescentes, ao completar essa idade, têm condutas ilegais. A Instituição, no entanto, acredita na transformação desses jovens e continuam acompanhando e fazendo visitas.

Nesse cenário pandêmico, o Instituto perdeu alguns funcionários devido à crise financeira e a impossibilidade de realizar alguns trabalhos presenciais, mas o trabalho do Adotar não parou, como explica Mônica:

“Atualmente, temos trabalhado ainda mais com o acompanhamento de famílias, já que a pandemia causou uma instabilidade econômica que atinge esses núcleos. Para evitar situações de violência domiciliar e fome, recebemos doações de roupas, produtos de limpeza, cestas básicas, verduras, lanches, materiais escolares, brinquedos e livros e distribuímos a essas famílias para que elas possam ter o que comer”, relata.

Mônica Rodrigues Corrêa e Fernanda Greco. Irmãs e fundadoras do Instituto Adotar. Imagem: Instagram @institutoadotar.

Atualmente, o Instituto Adotar está recebendo doações. Mônica ressalta que todas as doações devem estar em bom estado de uso e conservação, pois todos merecem o melhor e a associação busca a excelência. Para entrar em contato, basta mandar uma mensagem no Instagram da instituição.

Apoio à adoção

Na capital mineira, existem diversos projetos em apoio à adoção que realizam trabalhos tanto com adotantes, quanto com as crianças. O Grupo de apoio à Adoção de Belo Horizonte (GAA-BH) é um exemplo de instituição não governamental que realiza alguns trabalhos com pais no processo de adoção e com pessoas simpatizantes à causa.

Kênia Carvalho, assistente social e colaboradora do GAA-BH, conta um pouco sobre a instituição,  seus objetivos e dos trabalhos realizados. “A intenção do trabalho é agregar técnica e amor ao serviço pela vida, dedicando presença significativa na luta cotidiana a favor da garantia dos direitos das crianças e adolescentes”, observa.

O propósito muito claro de trabalhar pelo público infanto-juvenil e pela sua convivência em ambiente familiar traz algumas demandas, tais como o fortalecimento dos vínculos sociais, familiares e comunitários, em específico das crianças institucionalizadas. A atenção dedicada ao pós-adoção e o viés de real relevância para adoção “tardia” também compõem o desejo para realização do trabalho do GAA-BH.

Realizado e movido para que todas as famílias estejam com suas estruturas preservadas, o projeto ressalta, também, que a realidade social tem sido cada vez mais desafiadora, sendo o maior desses desafios a garantia de direitos de crianças e jovens que crescem institucionalizados. Há nesse trabalho o desejo que eles se sintam acolhidos em vez de “abrigados”, até que possam exercer seu direito supremo de viver em família. “Trabalhamos para que todos tenham plenitude de vida e uma família para chamar de sua”, declara Kênia.

O GAA-BH realiza diversos projetos com as crianças, visando proporcionar bem-estar e dar a elas oportunidades.

O projeto ‘Adote um campeão’, por exemplo, foi um sucesso para a Instituição e a maioria das crianças e adolescentes foram encaminhadas para lares adotivos. Este projeto foi uma parceria com o Cruzeiro Esporte Clube e a Vara da Infância e da Juventude. A vara da infância indicou crianças, de 9 a 17 anos, para participar do projeto. O Cruzeiro possibilitou que as crianças participassem de jogos, além de conhecerem os jogadores do clube, e assim essas crianças puderam sair dos abrigos, tiveram um contato social, o que pôde despertar desejos de adoção.

Outro projeto realizado pela instituição é o ‘Café com amor’, que viabiliza visitas em abrigos, realizadas uma vez por mês, nos finais de semana. Voluntários podem ir a locais de adoção e passar a tarde com os adolescentes, levar lanches, sucos e outras diversas comidas. Na pandemia, no entanto, devido às limitações impostas pelo isolamento social, as atividades não puderam ser realizadas.

O projeto ‘Semear’ é responsável por realizar eventos no mês das crianças e no natal. No mês das crianças, escolhe-se um dia para a realização do evento, e são procurados voluntários e parceiros, que podem ajudar com a parte financeira, e assim é feita uma festa para tais crianças.

“Geralmente levamos crianças de seis abrigos para o evento, que tem duração de um dia. No evento é oferecido lanches, almoço e muita diversão. A última edição deste evento ocorreu no ano de 2019. Os adolescentes podem escrever cartas com pedidos de presentes, e então procuramos voluntários para apadrinha-las e ajudar na elaboração do evento”, explica Kênia.

Adoção Tardia

Os processos de adoção, em sua maioria, ocorrem com crianças até 7 anos. A adoção de crianças mais velhas que essa idade é chamada de adoção tardia. De acordo com dados do Sistema Nacional de Adoção (SNA), no período de 2015 a 2020, cerca de 10.000 crianças foram adotadas. Destas, apenas 22,07% correspondem a crianças com 12 anos completos ou mais. Atualmente, em Belo Horizonte, 88% das crianças que esperam para serem adotadas têm mais de 7 anos.

Posto que esta faixa etária é a mais difícil de ser adotada, é importante ressaltar que todas as crianças merecem um lar e atenção. Apesar disso, este processo requer resistência dos dois lados, dos adotantes e das crianças, já ambos possuem suas dúvidas e medos quando se fala de adoção tardia.

As crianças, quando adotadas mais velhas, podem ter medos em relação à mudança de ambiente e de um novo abandono. Já os pais normalmente têm inseguranças em relação ao passado das crianças e seus históricos físicos e mentais, e o medo da não ambientação.

Como adotar?

O processo de adoção no Brasil ainda é bastante demorado e é necessário passar por várias fases até a finalização. A adoção deve ser iniciada na Vara de Infância e Juventude mais próxima da residência do adotante. A idade mínima para se habilitar à adoção é 18 anos, respeitando a diferença de idade de 16 anos para a criança adotada.

O processo ainda conta com vários passos de entrega e avaliação de documentos. Além disso, os futuros pais devem passar por avaliações físicas e mentais e participar de programas de preparação para adoção. O passo a passo ainda se estende por mais etapas, incluindo as jurídicas.

No Sistema Nacional de Adoção (SNA), estão cadastrados 31.003 crianças e adolescentes acolhidos em 3.259 instituições espalhadas por todo Brasil. Em média, cerca de 10 crianças e/ou adolescentes por instituição. Em última pesquisa feita, em março de 2021, havia 9.169 crianças disponíveis para adoção no país e 33.931 adotantes.

A vara Cível da Infância e da Adolescência da Comarca de Belo Horizonte registrou que, atualmente, existem 26 crianças, com idades de 0 a 18 anos, que estão à espera de um lar. Dentre estas, 24 foram acolhidas por lares da cidade e a maioria se encontra com idade superior a 7 anos.

Quantitativamente, existem, em média, 4 pretendentes aptos à adoção para cada criança/adolescente. Entretanto, ainda existem muitas crianças e adolescentes para adoção. Isso se dá pois apenas 0,3% dos pretendentes optam por adotar adolescentes,  que representam 77% do total de pessoas cadastradas no SNA.