Por Amanda Ferreira

As madrugadas estão cada vez mais frias, a pandemia é contida lentamente, a oferta de serviço cai vertiginosamente e as ruas da capital ganham novos moradores a cada dia. É nesse contexto que as pessoas em situação de rua vivem hoje na capital mineira.

De acordo com o último censo municipal feito em janeiro de 2020, havia 4,6 mil pessoas em situação de rua em Belo Horizonte. Para definir esses números, a PBH – Prefeitura de Belo Horizonte trabalha com os dados oficiais de cadastramento e atendimento.

Em contrapartida, o projeto Polos de Cidadania da UFMG, realizado em 11 cidades mineiras, apontou 9 mil moradores de rua em março de 2020 e 8,6 mil em janeiro deste ano em Belo Horizonte, mais que o dobro dos números fornecidos pela PBH.

Sem dados concretos, o crescimento avassalador dessa população nas ruas tem se limitado à percepção e a crescente necessidade de doações em ONGS e projetos sociais.

Moradores de rua recebendo alimento dos voluntários do projeto Sopão Solidário

“A quantidade de doações tem suprido boa parte da demanda, mas não é suficiente,” conta Shirley de Oliveira, voluntária do projeto independente Sopão Solidário.

As ações são realizadas por um grupo de amigos, que auxiliam moradores de rua e pessoas carentes por toda a cidade, fornecendo alimentos. “As doações são feitas há cinco anos, todas as quartas-feiras, em rotas predefinidas. Distribuímos cerca de 300 marmitas, fora cobertores, kits de higiene e roupas,” explica a voluntária.

Doações do projeto Sopão Solidário

A DIVERGÊNCIA NOS NÚMEROS

“No caso das pessoas em situação de rua, observa-se um fenômeno migratório intra e intermunicipal, principalmente ao considerarmos que Belo Horizonte corresponde a uma metrópole, pela qual circulam milhares de pessoas diariamente. Isso faz com que haja uma flutuação dessa população”, pontua a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (SMASAC).

Em nota, a SMASAC explica que o processo de atualização cadastral e de atualização sobre as dimensões e características dessa população no município para obtenção de informações fidedignas é complexo e para minimizar possíveis distorções, a Subsecretaria de Assistência Social utiliza como referência os dados de cadastros com atualização de até 12 meses.

O AMPARO AOS MORADORES DE RUA EM TEMPOS DE PANDEMIA

Foram instaladas pias em pontos estratégicos da cidade para auxiliar pessoas em situação de rua na higienização das mãos, um dos métodos mais eficientes no combate ao novo Coronavírus. Além da medida, a PBH realizou a distribuição de sabonetes para que essa população possa realizar a higienização correta das mãos e máscaras de proteção.

As pias foram instaladas pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (SUDECAP) e para definir os locais dos lavatórios, foram considerados espaços com grande circulação de pessoas, especialmente aquelas mais vulneráveis. Na região oeste, o único ponto escolhido foi nos arredores da Silva Lobo.

“Vim para as ruas no início da pandemia, fazia bicos como pintor e parei de ter serviços, agora vivo aqui”, conta Elias, de 34 anos, que circula nas ruas do Bairro Gameleira a procura de abrigo.

Segundo o morador, os auxílios da prefeitura não são suficientes. “Procurei alguns centros que dão assistência, mas nunca consegui vaga, tudo sempre lotado. Eu vivo com ajuda das pessoas que passam pelas ruas”, desabafa Elias.

Elias, morador de rua do bairro Gameleira

A VACINAÇÃO

A Prefeitura de Belo Horizonte iniciou a vacinação da população em situação de rua no dia 26 de maio. A estimativa é que sejam vacinadas cerca de 8,5 mil pessoas, que tem como referência toda a população inscrita no CadÚnico e as atendidas pelos serviços e unidades socioassistenciais. A Secretaria Municipal de Saúde informa que vai dar continuidade à vacinação da população em situação de rua até que a cobertura vacinal de 90% seja atingida.

A abordagem a essas pessoas está sendo realizada pelas equipes do Consultório de Rua, da Secretaria Municipal de Saúde, e equipes da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania, que percorrem as nove regionais da cidade, em vans, passando por locais estratégicos, para realizar abordagem, sensibilização e vacinação dessa população.

Além da imunização feita pelas equipes volantes, a vacinação do público segue em postos extras e Centros de Saúde. O Centro Universitário UniBH, no bairro Buritis, e a Faculdade Newton Paiva, localizada no Nova Granada, são os postos de vacinação com campanhas para pessoas em situação de rua da região Oeste de Belo Horizonte.

A lista completa pode ser conferida aqui.

OS CENTROS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

O Centro de Referência da População de Rua (Centro Pop) é um serviço ofertado para adultos que utilizam as ruas como espaço de moradia, ou sobrevivência.

No local são ofertados atendimento sócio assistencial por equipe técnica de nível superior, espaço para banho e lavagem de roupas, lanches e encaminhamentos para a rede sócio assistencial, para políticas públicas setoriais (segurança alimentar, saúde, etc.). Atualmente, Belo Horizonte conta somente com dois Centros Pop, um na região Centro-Sul e outro na região Leste.

A PBH fornece, também, os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), que são as unidades públicas da política de assistência social, de base local, integrante do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Os CRAS estão localizados em áreas com altos índices de vulnerabilidades e risco social. Belo Horizonte conta hoje com 34 unidades, quatro delas na região Oeste da capital mineira, nos bairros Havaí, Nova Granada, Vila Antena e Vista Alegre.