Por Rafael Alef

A Prefeitura de Belo Horizonte autorizou a reabertura de creches e escolas de educação infantil na capital. O retorno, iniciado em 26 de abril, é restrito a crianças de 1 a 5 anos e 8 meses, e faz parte da flexibilização do isolamento após melhora progressiva nos indicadores epidemiológicos e assistenciais.

As instituições de ensino que permaneceram fechadas durante o período de quarentena, que já se estende há mais de um ano, recebem os alunos matriculados e devem seguir todos os protocolos de segurança determinados pela prefeitura e disponíveis no Portal da PBH.

O retorno tem reações mistas entre pais e professores, que destacam os benefícios da convivência escolar e o compromisso contínuo com a segurança, mas apontam perigos para a contaminação pela covid-19 em meio ao processo de vacinação iniciado em janeiro.

REABERTURA DIVIDE OPINIÕES

Em entrevista concedida ao DaquiBH, Aline Santos, moradora de Belo Horizonte e mãe de Artur, que atualmente está no maternal, não se sente segura para o retorno do filho no momento. “Não quero expor meu filho a um ambiente de incertezas, e ainda não acredito que as professoras estejam preparadas psicologicamente, além de não estarem vacinadas para isso” reflete.

Aline, que foi convidada pela escola do filho a liderar uma comissão de pais para o retorno presencial, tem acompanhado o processo, mas continua receosa. “A prefeitura muniu a escola de materiais de apoio, mas o principal ainda não temos, que é a vacina para as profissionais que vão lidar diretamente com as crianças”, reflete.

O contato com a instituição acontece por canais de comunicação, como o WhatsApp, e é repassado para os demais pais de alunos, em que a autorização atual é para um retorno de forma gradativa. “Incialmente [retornaram ao presencial] apenas as crianças do segundo período (5 anos de idade) e posteriormente as demais, período por período, até chegar no maternal que deverá ser o último” explica.

A transparência na comunicação com as escolas foi um fator decisivo para tranquilizar os pais que são favoráveis ao retorno. A empresária Amanda Leão Cekiera, moradora da região oeste de BH, se sentiu segura com o retorno presencial dos filhos Laura e Davi, na Escola Infantil Ipê Amarelo, com unidade no bairro Buritis.

“A escola está sendo muito cuidadosa, a direção é fantástica e deu todo o apoio necessário no período de pandemia”, elogia. Amanda já destaca algumas mudanças no comportamento dos filhos após a primeira semana de aulas presenciais, desde a diminuição de ansiedade até a melhora do sono.

A arquiteta Mariana Messina também notou mudança nos interesses dos filhos, Isabela e Lucas, que agora voltam para casa falando sobre letras, números e dinâmicas do convívio escolar. “Como mãe que não faz parte da área pedagógica, vejo que nós [os pais] esgotamos as maneiras de entreter as crianças durante o período de quarentena, e manter esse engajamento com a educação”, pondera.

Para cultivar um vínculo com a escola, Mariana relata que a instituição forneceu material de apoio pedagógico no último ano e coordenou, de forma online, encontros semanais para as crianças. “Os coleguinhas estavam online, faziam brincadeiras e cantavam músicas”, relembra. Hoje, os filhos apresentam animação com o retorno. Isabela, a filha mais nova de 2 anos e meio, apresentou certo receio no início, consequência de ser um “bebê da quarentena” que teve pouco convívio social desde o nascimento, mas já está feliz com a nova realidade.

Mariana acredita que a preparação e comunicação direta feita pela Escola Jasmim Educação Lúdica, localizada na região oeste de BH, onde os filhos estudam, foi fundamental no último ano. “Nunca ficamos 1 mês sem notícias da escola, ainda que a notícia fosse não temos previsão de retorno e isso gerou uma segurança muito grande”, relata. A instituição informou, em reuniões com os pais, todos os protocolos a serem seguidos, desenvolvidos durante o último ano antes mesmo de um posicionamento oficial da Prefeitura de Belo Horizonte. “Uma informação transparente da instituição é fundamental para trazer segurança aos pais” destaca Mariana.

Além da transparência da instituição, um compromisso dos pais, que escolhem levar os filhos ao espaço físico, é fundamental, onde, em acordo, se resguardam no isolamento, evitando até mesmo pequenos eventos familiares, priorizando o acesso dos filhos ao convívio escolar e a precaução contra um possível contato com o coronavírus.

PROTOCOLOS E CONSEQUÊNCIAS DO RETORNO PRESENCIAL

A proposta de protocolo para o funcionamento das escolas de ensino infantil, fundamental e médio, vem sendo atualizada pela PBH desde novembro de 2020. Entre as principais diretrizes, estão destacados o tempo máximo de permanência das crianças na escola, 4 horas e 30 minutos, e as delimitações de espaço, que incluem a área do professor e a capacidade de alunos por turma (50%).

A rede pública municipal, que é gerenciada pela PBH, deu início ao retorno em 3 de maio, uma semana após a rede privada, dedicando a semana anterior ao preparo dos professores e contato com a família de alunos matriculados.

Em contrapartida, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-Rede BH), informa que uma possível greve dos professores pode ganhar força nos próximos dias. Em manifestação na capital, os profissionais alertam sobre perigos do retorno presencial, sem priorização de vacina para este grupo.

Segundo a Sind-Rede, BH já tem 11 casos confirmados de covid-19 em escolas após o retorno presencial, que foram abafados por medo de represálias. O sindicato também relata a indignação dos manifestantes em relação ao posicionamento da PBH, e faz críticas ao prefeito Alexandre Kalil (PSD) e a secretária de educação Ângela Dalben, que segundo comunicado da entidade, vem impondo o retorno presencial e criminalizando a greve de professores de forma abusiva.

O DaquiBH entrou em contato com as principais escolas da região oeste de BH para comentários sobre a implantação dos protocolos, mas não obteve respostas.