Por Luís Otávio Peçanha

Março é marcado como o Mês Mundial da Conscientização da Endometriose, doença que mais afeta a população feminina no mundo. Durante esse período, conhecido como Março Amarelo, são desenvolvidas inúmeras ações para conscientizar a população, principalmente as mulheres, sobre a doença, com abordagens sobre os principais sintomas, os riscos e os tratamentos conhecidos.

A endometriose é uma doença ginecológica, caracterizada pelo crescimento do endométrio, tecido que reveste a parte interna do útero, fora da cavidade uterina, em locais como as trompas, ovários, intestinos, reto e bexiga. Esta patologia é mais comum entre mulheres de 30 a 40 anos, mas é um risco para qualquer idade por estar associada à menstruação, atingindo uma a cada dez mulheres em idade fértil.

O endométrio tem como principal função alojar um óvulo fecundado dentro do útero, ficando mais espesso a cada mês para facilitar o processo. Ele é expelido do corpo ao final do ciclo menstrual por meio da menstruação.

SINTOMAS E DIAGNÓSTICO

Um dos principais problemas da endometriose é a dificuldade de um diagnóstico, pois os seus sintomas se assemelham muito com os de uma menstruação comum, como fortes dores abdominais e cólicas menstruais intensas, que afetam muito a qualidade de vida de mulheres jovens, as impedindo de realizar seus sonhos, projetos pessoais e profissionais.

Isabella Andrade, 36 anos, diagnosticada com a doença há aproximadamente três anos, conta que, no início, sentia cólicas muito intensas e, ao realizar exames específicos preventivos, descobriu a endometriose por conta do desenvolvimento de um câncer de colo de útero. Atualmente, acompanha a patologia com exames endovaginais de 6 em 6 meses e vive a vida normalmente. “Acho que poderíamos ter exames mais cedo, ações sociais tais como conversas com ginecologistas ou até criarmos consultas específicas, pois normalmente vejo que é uma coisa muito comum na família”, frisa.

Existem, porém, sintomas que podem ser indicativos mais fortes da patologia na mulher, como dor lombar e pélvica crônicas, dor durante e após as relações sexuais, sangramento, problemas digestivos (diarreia e constipação), inchaço e náusea. Um dos principais obstáculos enfrentados pelas mulheres que sofrem da condição é a dificuldade para engravidar.

As causas ainda são desconhecidas, mas existem alguns fatores de risco que devem ser observados, tais como:

  • Começar a menstruar muito cedo;
  • Nunca ter tido filhos;
  • Ciclos menstruais frequentes;
  • Menstruações duradouras, cerca de sete dias ou mais;
  • Hímen perfurado;
  • Anormalidades no útero.

O maior aliado para o combater a doença é o diagnóstico precoce. Estudos indicam que algumas mulheres levam cerca de sete anos, desde o início dos sintomas, até ter o diagnóstico e tratamentos adequados. Atualmente, existem algumas opções de tratamento, que podem variar baseado no caso de cada paciente, como explica Christiane Torres, ginecologista do Hospital Felício Rocho e do Hospital Metropolitano Odilon Behrens.

“O tratamento depende da severidade dos sintomas, ou seja: caso seja por dor leve a moderada, podem ser controlados com analgésicos e as pílulas contraceptivas contínuas (a mulher não irá menstruar e, logo, não terá dor). É possível, por exemplo, induzir por meio de medicamentos, uma menopausa temporária para tentar reduzir a inflamação da endometriose. Caso todo o tratamento com remédios não funcionem, a gente tenta realizar cirurgia por videolaparoscopia, preferencialmente, e tirar todos os pedaços visíveis de focos de endometriose”, explica a médica.

EM BUSCA DA QUALIDADE DE VIDA

Christiane explica que os tratamentos cirúrgicos costumam ser deixados como última opção por serem muito agressivos. Existem casos, observa a ginecologista, em que é necessário retirar pedaços do intestino caso a endometriose o acometa, ou até mesmo casos mais extremos em que é preciso retirar o útero e ovários. Neste último caso, o procedimento é feito caso a mulher já tenha filhos, para que ela entre na menopausa e reduza as dores.

O mais recomendado pelos profissionais da saúde é optar por outras terapias que ajudem a melhorar a qualidade de vida da mulher, como acupuntura, atividade física e uma dieta balanceada, buscando um equilíbrio para a rotina com uma doença que, infelizmente, ainda não tem cura e é pouco conhecida.

No que diz respeito à influência da endometriose para infertilidade feminina, a ginecologista explica que a doença está presente em cerca de 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva. Destas, estima-se que 30 a 50% tenham infertilidade.

“A endometriose não é um diagnóstico de esterilidade. As pacientes com mais dificuldade de engravidar podem se beneficiar com cirurgias e até mesmo de técnicas simples ou avançadas da reprodução humana, uma especialidade dentro da ginecologia, como a fertilização in vitro”, destaca Christiane Torres.