Por Arthur Lobo

Se comemora, no mês de agosto, o dia nacional do ciclista. Diante disso, a  equipe do DaquiBH buscou analisar a situação do ciclismo em Belo Horizonte em tempos de pandemia.

Sexta cidade mais populosa do Brasil, com aproximadamente dois milhões e quinhentos mil cidadãos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Belo Horizonte está localizada em uma área geográfica que possui característica de muitos morros e montanhas. Será que a prática do ciclismo como esporte e meio de transporte atrai a população da região Oeste?

“A zona Oeste tem muitos morros e poucas ciclovias, mas uma bonita paisagem. Belo Horizonte é uma péssima cidade para quem deseja pedalar com poucas ciclovias, asfalto irregular e os motoristas que não respeitam a distância de segurança nem concedem prioridade aos ciclistas”, relata o estudante de Educação Física, Caio Scapolatempore, de 23 anos, morador do bairro Buritis.

INFRAESTRUTURA PARA CICLISTAS

Segundo a prefeitura de Belo Horizonte, até dezembro de 2017, a cidade criou 89,93 quilômetros de áreas destinadas ao ciclismo entre ciclovias, ciclofaixas e cicloruas. Na região Oeste, a opção de ciclovia está na Av. Teresa Cristina, segunda com maior extensão na cidade, com 4,63km, ficando atrás apenas da Av. Otacílio Negrão de Lima, que possui 19,11km.

Segundo a coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTRANS, Eveline Prado Trevisan, em julho, a prefeitura viabilizou a conexão de trechos existentes de ciclovias, com trechos de ciclofaixas temporárias, em aproximadamente 30km, ligando as regiões Leste e Oeste à área central da cidade e ao Sistema Move. “Nosso objetivo é promover a ampliação dessa infraestrutura de forma constante a partir de agora”, diz. Segundo ela, a pandemia fez a bicicleta surgir novamente como uma alternativa importante para o deslocamento na cidade.

Em horários de pico, é comum ver pedestres ao lado de ciclistas na ciclovia da Av. Tereza Cristina. | Foto: Arthur Lobo.

COMO ESTÁ A AV. TEREZA CRISTINA?

Alan Prado, de 26 anos, morador do Jardim América, é Coordenador do Pedal Oeste e criou o grupo após a quarentena, que agora treina todas as quintas-feiras na Av. Tereza Cristina. Ele acredita que a alta procura por bicicletas neste período foi reflexo do fechamento das academias, centros esportivos e o baixo custo do esporte.

Alan elogia os 30Km ampliados pela prefeitura. “Fica meu elogio para a parte criada próxima à Av. Amazonas, foi um triunfo, tomara que fique por definitivo”. Mas ele ressalva que a Av. Teresa Cristina tem graves problemas. Primeiro, a pista tem sido utilizada por pedestres, atrapalhando a circulação de bicicletas, obrigando os ciclistas a usarem a pista principal da via, além de estar com muitos buracos e entulhos.

Morador da região do Betânia, Hudson Flavio, 21 anos, relata que após a quarentena ele começou a usar mais a sua bicicleta, andando em média 22,5 km por dia na Av. Tereza Cristina. Ele gosta da ciclovia da avenida, mas afirma que não é possível ser mais intenso, pois a ciclovia fica congestionada por pedestres em horário de pico.

Eveline Trevisan reconhece que, nos últimos anos, foi difícil avançar com a implementação de infraestrutura para bicicletas na cidade, mas em contrapartida, o planejamento cicloviário avançou bastante. “Atualmente estamos desenvolvendo projetos para aproximadamente 70 km de novas ciclovias”, afirma a coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTRANS.

O planejamento cicloviário da Prefeitura tende a tornar a cidade mais acessível aos ciclistas. | Imagem: Prefeitura de Belo Horizonte.

QUARENTENA ESTIMULA OS CICLISTAS

Uma nova alternativa de transporte para Renner Ribeiro, de 24 anos, que se mudou há 5 anos para Belo Horizonte e, desde então, começou andar de bicicleta. Mas, devido à ociosidade da quarentena, esse ano ele andou mais.

Renner tem percebido o aumento no número de usuários de bicicleta durante esse período e que os fabricantes de peças não estavam preparados para esse aumento. “Oficinas lotadas, fornecedores estão sem estoque de peças, faltam itens básicos como pneu e câmara de ar”.

Na fase inicial da pandemia, quando se decretou o isolamento social, a Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas) realizou um levantamento, revelando que entre março e abril houve uma queda entre 50% a 70% no faturamento da maior parte das lojas do ramo em território nacional. Dentro desta apuração, aproximadamente 33% dos entrevistados viram o seu faturamento cair mais de 70%.

Mas uma pesquisa mais recente, realizada com mais de 40 empresas do ramo, entre 15 de junho e 15 de julho, mostrou que as coisas melhoraram e o uso da bicicleta aumentou, não apenas em Minas Gerais, mas também no Brasil. O país teve um crescimento de 118% nas vendas de bicicletas em comparação ao mesmo período do ano passado.

“De acordo com informações de lojistas, o aumento aconteceu especialmente porque a população procura por soluções para evitar as aglomerações do transporte público. Seguindo, inclusive, recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde)”, relata André Ribeiro, vice-presidente da Aliança Bike.

Já Ariele Felix, de 37 anos, proprietária da loja Bike Buritis, afirma que o número de ciclistas já havia aumentado nos últimos anos, seja pela conscientização com relação ao meio ambiente ou pelo bem-estar, saúde e economia com combustível, mas ela não esperava que esse número duplicaria na quarentena.

“No mesmo período do ano passado, a procura era 50% menor que este ano, isso porque além das pessoas estarem fugindo dos meios de transporte lotados para evitar aglomerações, as academias estão fechadas e a bicicleta tem sido uma excelente estratégia para manter o corpo e movimento de forma saudável e prazerosa”.

Ela ainda relata que a procura por bicicletas e acessórios tem sido enorme e isso tem feito com que a loja funcione depois do horário, para dar tempo de entregar toda a demanda.

Andar de bicicleta abre espaço nas vias da cidade, proporcionando uma melhor mobilidade urbana. | Foto: Arthur Lobo.

VANTAGENS PARA VOCÊ E PARA SUA CIDADE

Para falar sob o aspecto da saúde, conversamos com Diego Moreira, de 32 anos, professor de educação física e proprietário do Studio 360 Fit (Treinamento Funcional Personalizado). Segundo ele, andar de bicicleta é uma diversão; a partir do momento que a pessoa torna o ciclismo um objeto de treino, visando um melhor desempenho, será necessária uma avaliação física e cardiológica para saber se a pessoa está apta ou não a praticar as atividades individualmente e diariamente.

Aderir a bicicleta como uma atividade rotineira durante uma pandemia pode ser fator importante para a melhora da imunidade, isso porque, segundo um estudo feito na Europa, sobre a relação entre saúde e locomoção, diversos efeitos positivos à saúde pode surgir ao andarmos de bicicleta diariamente: vitalidade, autopercepção do estresse e menos sentimento de solidão, além de relaxamento e bem-estar.

O estudo foi realizado com 3.567 pessoas de 7 países europeus, e faz parte do projeto de pesquisa Atividade Física Através de Abordagens de Transporte Sustentável (PASTA, pela sigla em inglês), financiado pela União Europeia.

A Covid-19 tem como sintoma mais comum o comprometimento do sistema respiratório e o ciclismo pode auxiliar nisso. “Andar de bicicleta é uma atividade aeróbica que utiliza do oxigênio para liberar energia e, quanto mais utilizamos dessa capacidade, mais evoluímos no controle da respiração”, afirma o professor de educação física, Diego Moreira.

Essa prática também libera o hormônio da endorfina, que causa uma sensação de bem-estar e é importante para evitar o estresse a ansiedade, “fatores psicológicos que podem aparecer durante a pandemia”, complementa o professor.  Ele explica ainda que qualquer atividade física libera hormônios que regulam o corpo de forma geral, aumentando a imunidade, o que pode evitar problemas de saúde.

Sob o aspecto ecológico, Eveline Trevisan, da BHTRANS, diz que as bicicletas são fundamentais na busca de uma cidade mais sustentável do ponto de vista ambiental.

“Em Belo Horizonte, 54% dos gases de efeito estufa são emitidos por veículos motorizados, portanto as pessoas que se deslocam de forma sustentável contribuem para uma vida na cidade mais saudável”, afirma.

 

Jornal Daqui BH

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