Por Caetana Lisboa, Fabíola Costa e Wellington Barbosa  

Quem chega à capital mineira procurando um local para se estabelecer, com certeza se encanta com a região do Buritis.

Quem vê o bairro repleto de áreas verdes, redes de comércio, prédios e centro de estudos, não imagina como ele era na década de 60.

No local estava localizada uma fazenda – que abrangia a região do Buritis até os bairros Palmeiras e Estrela D’alva, de um senhor chamado Aggeo Pio Sobrinho. No entanto, como era uma região visada por empresários, a fazenda acabou sendo vendida e os terrenos repartidos, constituindo-se, parte dela, no bairro Buritis.

A partir disso, grandes construtoras, na década de 80, começaram a trazer grandes empreendimentos para o local. Além de faculdades e centros universitários que começavam a se instalar na década de 70.

Hoje,  os moradores têm a disposição faculdades como a Newton Paiva e UniBH e, em consequência deste grande número de estudantes, a região também é contemplada com um leque de bares e repúblicas.

Assim o mercado imobiliário da região acaba recebendo muitas demandas de moradia para estudantes, sozinhos ou em repúblicas.

A consultora de imóveis da região,  Daniela Blom, explica que apesar de alguns síndicos e donos de apartamento terem um preconceito em alugar para estudantes, a imobiliária não faz nenhum tipo de contrato diferenciado. É preciso ter um responsável para alugar o apartamento e fiadores, mesmas exigências para uma família.

A realidade das Repúblicas no Buritis

Se você sempre imaginou que as universidades e a vida acadêmica no Brasil são  como os filmes americanos, como a sequência American Pie, da produtora W.K. Border, está muito enganado.

Sair da casa dos pais e ir morar em uma nova cidade para fazer a tão esperada universidade é um desafio na vida dos jovens. Alguns escolhem sair do interior e estudar nas universidades da capital, outros preferem ir para as chamadas cidades universitárias.

Apesar do desafio inerente ao momento, como em outros âmbitos da vida, o universitário das repúblicas do Buritis têm uma rotina bem diferente das vividas por quem escolhe estudar no interior. 

A estudante Ianny Rodrigues, natural de Santo Antônio do Jacinto (MG),  logo percebeu que muitas coisas não são como pensava. “Imaginava farra todos os dias, mas descobri que estudante não tem dinheiro nem para farras umas vez ao mês”, afirmou a estudante de 20 anos, que cursa Engenharia Química.

Assim como ela, Michelly Mello, de Santa Maria de Suaçuí (MG), também tinha a mesma opinião. “Acreditava que tudo era desorganizado, com muitas festas e bebidas”. Mas a realidade das meninas era outra; a vida em república vai muito além. Um exemplo é a rotina de Michelly, que estuda Engenharia de Produção.

“Acordo as 6h30 , saio de casa às 7h20. Trabalho de 8h às 18h. Do trabalho, vou direto pra faculdade onde, em geral, fico até às 22h. Chego em casa por volta das 22h15. É bem complicado viver longe da família, mas nos falamos todos os dias e em todas as férias eu vou para minha cidade vê-los. Como são 12 horas de viagem eu só vou nas férias”.

Sobre a convivência, a estudante afirma que a maior dificuldade foi “conviver com pessoas totalmente diferentes, com criações diferentes”. Da mesma forma, Michelly conta que a adaptação foi o mais complicado, pois segundo ela, “as pessoas aqui são pouco solidárias”.

Viver em república, além da adaptação e convivência com outras pessoas, requer um bom relacionamento com os vizinhos, que, de acordo com a Ianny, sempre reclamam dos barulhos, das conversas e das festas. “A convivência é tranquila na base do possível, eles reclamam muito quando estamos reunidos para conversar na sala e, principalmente, das nossas farras”.

No caso de Michelly, a convivência com os vizinhos quase não existe.“Não conheço meus vizinhos. Não fico em casa. Venho só para dormir”.

Esses são alguns dos desafios que os estudantes encontram na vida fora de casa. Mas, para a psicóloga Flávia Contijo, esse momento de viver fora da casa dos pais é fundamental para a formação da pessoa adulta. Ela lembra inclusive que em muitos países é tradição o jovem sair de casa bem cedo.

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De acordo com a Ianny, em sua república, todos possuem funções.

“Na nossa república tudo é divido igualmente entre os quatro. Temos uma organização de três fazerem a comida e arrumar a cozinha, e um ficar por conta da arrumação da casa e lavar o banheiro uma vez por semana. É tudo muito organizado”.

Ianny conta que sempre morou na mesma república e nunca teve problemas com fiador e aluguel de apartamento, pois os pais de suas amigas sempre são os responsáveis pelo aluguel. “Nós montamos nossa república na minha cidade e sempre um dos pais aluga, então é bem tranquilo”.

Já Michelly não vem tendo a mesma sorte com o aluguel e fiador do imóvel. “Estamos tendo problema agora. Precisamos de outro apartamento e não temos fiador”. Além disso, a estudante destaca a dificuldade de convivência com os outros estudantes da casa. “Em algumas repúblicas, já aconteceu da minha comida simplesmente sumir. Não respeitam o que é do outro”.

Embora os problemas existam, segundo a polícia militar, são registrados poucos problemas na repúblicas. O problema maior é nos bares no entorno das universidades, informa o major Celante.