Por José Carlos Santos

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que, no Brasil, há mais de 30 milhões de animais abandonados. Na capital mineira, a estimativa é de 1 animal abandonado a cada 5 pessoas, e a tendência é que esse número cresça ainda mais durante a pandemia do novo coronavírus, mesmo não havendo evidências de que cães e gatos possam ser infectados ou transmitirem o vírus.

Dados estimados de BH, em 2017, apontaram 404.784 animais abrigados com seus respectivos donos em seus lares, sendo 307.959 cães e 96.825 gatos. Em relação ao número de animais que vivem nas ruas, não existem estimativas oficiais da PBH.

A cidade possui, hoje, cinco centros de esterilização para o controle populacional de animais, que trabalham com agendamentos presencial ou por telefone e procedimentos totalmente gratuitos. Para a participação no Programa de Controle Populacional, os animais devem ter no mínimo 4 meses de idade e no máximo 8 anos, sendo realizada a castração de cães e gatos, machos e fêmeas.

O período de pandemia da Covid-19 tem sido um problema para esse serviço no município, uma vez que apenas 50% das solicitações para castração estão sendo atendidas. Mas, todos os animais em condições de rua que são resgatados continuam no processo de castração e são alojados nos Centros de Zoonoses até serem encaminhados à adoção, de acordo com a cartilha da Secretaria Municipal de Saúde.

O órgão explica que cães e gatos aguardam o período de dois dias após a captura para serem reclamados por seus tutores. Expirado o prazo, eles são disponibilizados para adoção nas dependências do Centro de Controle de Zoonoses, de segunda à sexta-feira, das 8h às 17h, e que para adoção é necessário ser maior de idade, apresentar carteira de identidade e comprovante de endereço.

ABANDONO É CRIME

O abandono de animais tem sido constante na capital e tem gerado problemas para a ecologia, economia e, principalmente, para a saúde pública. A reprodução desordenada gera uma quantidade maior de animais nas ruas, aumenta o número de parasitas, os animais acabam sofrendo maus-tratos, passam fome, reviram lixos, atraindo roedores, contaminam o meio ambiente com fezes e podem ser ameaças para pedestres.

O abandono de animais é crime e está previsto no artigo 32 da lei 9.605/98. A pena é de três meses a um ano de detenção e multa. Se houver morte do animal, a pena é aumentada de um sexto a um terço.

A Lei Municipal 8.565, de 13 de maio de 2003, que dispõe sobre o controle de cães e gatos no município, é a de maior importância no quesito de mediação entre criador, criatura e competências atribuídas para a guarda responsável. A guarda responsável busca o bem-estar do animal, afim de evitar a reprodução desordenada, o abandono, a transmissão de doenças e o sofrimento de animais de estimação.

Entre os deveres do guardião estão imputadas responsabilidades como: esterilizar, castrar o animal (macho ou fêmea), alimentá-lo adequadamente, manter água fresca e limpa durante todo dia, oferecer abrigo confortável, dar carinho e atenção, nunca mantê-lo acorrentado, amarrado ou restrito a um cômodo apertado, manter dentro dos limites da casa ou quintal para a segurança de todos, cuidar frequentemente da saúde do animal, levando ao veterinário para vacinação e vermifulgação, levar para passear com frequência, sempre usando coleiras e guias e respeitando o espaço público, tendo consigo folhas de papel ou um saco plástico para recolher as fezes do animal.

CASTRAÇÃO EM BH

No município, são realizadas aproximadamente 2.300 castrações de animais por mês em todos os Centros de Esterilização de Cães e Gatos e no Centro de Controle de Zoonoses. O Centro de Controle de Zoonoses recolhe, mensalmente, uma média de 260 animais, entre cães e gatos. Todos os animais que chegam à unidade passam por uma consulta com médico veterinário, quando é feita uma avaliação clínica, para saber se o animal está com alguma lesão ou enfermidade.

O Centro de Esterilização de Cães e Gatos Oeste localizado no Bairro Salgado Filho é um desses locais que atendem não só animais em situação de abandono, como agendamentos para castração. Até o mês de junho de 2020, o Centro de Esterilização de Cães e Gatos Oeste, realizou cerca de 1.739 castrações.

Caso necessário, é iniciado tratamento com antibiótico, antinflamatório ou cuidados com as feridas. Além dessa avaliação, são feitas a vermifugação, vacinação contra a raiva, controle de ectoendoparasitas e, no caso de cães, a coleta de sangue para realização do exame de leishmaniose.

REFLEXÃO DO ESPECIALISTA

Domingos Menezes, veterinário que atua há mais de 30 anos na área, fala um pouco das mudanças e do processo de aproximação dos animais com o ser humano.

 “Antes da formatura eu já atuava no atendimento aos animais, no sítio da minha família ou para os mais próximos que solicitavam minha ajuda. Nesta época, já era professor de biologia e já me interessava por nossos amigos animais. Não gostava de ver o sofrimento deles. Naquele tempo, havia um certo distanciamento entre os animais e o homem. Cachorro era no quintal e gato, esse então, era mais longe ainda, pude sentir toda essa mudança neste relacionamento. Cão e gato invadiram os domicílios e mudaram os hábitos, tanto deles quanto do humanos que os adotaram. Mudanças ocorreram nos cuidados nutricionais e de saúde, surgiram medicamentos, rações de todo tipo e qualidade.”

Mesmo sendo profissional e tendo que manter a linha da conduta na profissão, o biólogo e médico veterinário se mostra bastante complacente com a causa animal, além de um amor expressivo pelos bichos.

“O tempo passou rápido e parece que os animais de estimação nem se deram conta das novidades. Vemos, hoje, cães mais humanos que muitos humanos, que se esqueceram que são animais. O homem criou uma relação mais profunda com eles e com certeza os tira da natureza que, infelizmente, não mais conhecerão. Eles apresentam medos e temores mais relacionados aos humanos que deles, efetivamente. Doenças então, nem se fala.”

“Cada vez mais se ligam ao cuidador, nas manias e maneiras, (mostre seu animal e direi quem você é), aumentando essa tal ligação entre eles. Atendo ao animal e vejo a pessoa, o tempo passa e há cada dia mais ligação entre os dois. Muitas vezes, o cuidador quer tomar a decisão pelo animal, o que foge à natureza do animal. Não se vê mais cachorro ou gato, vê-se filho, neto, mãe e avós. Os animais estão sendo mudados para o bem de quem os têm.”

OLHAR DA UMA TUTORA RESPONSÁVEL

Também conversamos com Gilda Balbino, professora na rede municipal e protetora independente de animais. Ela tem 4 animais em casa, 1 cão e 3 gatos, e relata a alegria de poder ajudar diretamente em ações de resgate a animais de rua e, ao mesmo tempo, de ser tutora desses animais, os considerando como membros da família e que foram de suma importância durante um período difícil de sua vida, quando se deparou com a depressão.

Pets da Gilda Balbino. Foto: arquivo pessoal.

Jornal DaquiBH – Quando surgiu a vontade de trabalhar voluntariamente para a causa animal?

Gilda – Ser cuidadora é um ato de amor. Engana-se quem pensa que adotar resume-se apenas em ajudar um animal. É uma terapia que transforma o adotante em alguém mais humano. O meu caso com a adoção é, na verdade, terapêutico. De repente, percebi-me doente. A depressão chega sem percebermos, e tudo perde o sentido, fica cinza, sem graça. Sabia que precisava de algo que me fizesse perceber a vida de outra forma e, andando pelas ruas, comecei a perceber a quantidade enorme de animais abandonados.

Jornal DaquiBH – A depressão foi um dos fatores que a fizeram se tornar uma protetora independente?

Gilda – Sim. Foi aí que entrei em vários grupos de adoção existentes no Facebook.  Também passei a visitar as feiras, em Belo Horizonte, realizadas por ONGs que resgatam animais em estado de abandono. Até que contatei uma família em estado de vulnerabilidade, na região Leste de BH, doando filhotes de cães. Foi assim que a Luna foi adotada. Trouxe alegria à casa e companhia para minha filha, Isadora.

Jornal DaquiBH – Qual a maior dificuldade em ser tutora e ao mesmo tempo ser protetora independente?

Gilda – Depois disso, a vontade era de resgatar todos os animais, mas por falta de tempo, espaço e recursos, até hoje só consegui adotar quatro animais (uma cadela e três gatos). Isso torna mais difícil ser protetora independente, porque os gastos são enormes, além de exigir uma disponibilidade cada vez mais escassa, em razão da rotina corrida que todos temos.

Jornal DaquiBH – Onde você acha que o poder público, especificamente a prefeitura, falha nesse sentido?

Gilda – O problema de animais abandonados seria menor se a população se conscientizasse da importância da castração. Além disso, se a prefeitura fizesse uma publicidade mais adequada a respeito da gratuidade desse serviço e tivesse projetos mais eficazes, voltados para o acolhimento desses animais, não teríamos tantos bichinhos vagando por aí.

CENTROS DE ESTERILIZAÇÃO EM BH

  • Barreiro: Centro de Esterilização de Cães e Gatos Barreiro – Avenida Antônio Praça Piedade, 68, bairro Bonsucesso. Telefone: 3246-2044.
  • Norte: Centro de Controle de Zoonoses – Rua Edna Quintel, 173, bairro São Bernardo. Telefone: 3277-7413.
  • Oeste: Centro de Esterilização de Cães e Gatos Oeste – Rua Alexandre Siqueira, 375, bairro Salgado Filho. Telefone: 3277-7576.
  • Noroeste: Centro de Esterilização de Cães e Gatos Noroeste – Rua Antônio Peixoto Guimarães, 33, Bairro Caiçara. Telefone: 3277-8448
  • Leste: Centro de Esterilização de Cães e Gatos – Rua Antônio Olinto, 969, bairro Esplanada. Telefone: 3277-9052.