Por Beatriz Fernandes

Com as escolas fechadas desde o dia 18 de março, por meio do Decreto Estadual nº 47.886, o retorno às aulas presenciais em Minas Gerais ainda é incerto. Mas, com o começo do segundo semestre de 2020, o debate em torno de qual seria o melhor momento para a volta às aulas, tem se intensificado. 

De um lado, por exemplo, temos o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), garantindo que as aulas voltarão ainda neste semestre. Por outro, temos as opiniões de professores e pais contra a retomada, além do posicionamento, por meio de nota oficial, da Prefeitura de Belo Horizonte.

“A Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte preza pela qualidade do ensino, mas em primeiro lugar pela saúde e segurança dos nossos estudantes e, por isso, aguarda autorização do Comitê de Enfrentamento da Pandemia do Covid-19 para o retorno das aulas presenciais.” – trecho da nota da PBH

POSICIONAMENTO SINDICAL

Além disso, o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (SINEP-MG) disponibilizou, no dia 14 de julho, um protocolo de retorno às atividades escolares, que não foi muito bem aceito pela Prefeitura de Belo Horizonte. Isso porque, ao contrário do que o próprio sindicato alega, o documento foi interpretado como uma medida para retorno breve das aulas. Mas, de acordo com a presidente da organização, Zuleica Reis, o intuito do protocolo é nortear as escolas, que têm se sentido desamparadas durante esse período por não serem incluídas nos planos de flexibilização. 

Prova disso é que dados levantados pelo sindicato mostram que 50% das escolas particulares da capital estão com receita inadimplente, e 35% dos pais cancelaram a matrícula de seus filhos. Com isso, o propósito é que quando esse retorno das escolas começar a acontecer, já haja algo bem sistematizado para amparar os profissionais da educação. 

O QUE DIZEM AS PESQUISAS 

O assunto é delicado já que, de acordo com pesquisa divulgada pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, cerca de 9,3 milhões de pessoas no país, que pertencem ao grupo de risco, vivem na mesma casa que crianças e adolescentes em idade escolar. Minas Gerais é o segundo estado com maior número de pessoas nessa situação (em torno de 1 milhão), ficando atrás apenas do estado de São Paulo.

Mas a precariedade no ensino remoto e a perda irreparável na educação que esse tempo trará aos estudantes são indiscutíveis. Um levantamento realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais, por exemplo, apontou 42 erros ortográficos, 122 plágios e 89 erros de informação  nas apostilas do Plano de Estudo Tutorado (PET), disponibilizadas no hotsite Estude em Casa, uma realização da Secretaria Estadual de Educação.

OPINIÃO DOS PAIS E PROFESSORES

Em meio a esse debate, temos também a opinião dos pais e responsáveis pelos alunos. Uma pesquisa encomendada pela União pelas Escolas Particulares de Pequeno e Médio Porte, escutou 4.307 responsáveis por estudantes de 407 escolas de todo o país. Os dados levantados mostraram que 51,6% dos entrevistados não querem que os filhos voltem às aulas ainda em 2020. Em relação à opinião sobre o ensino remoto, a nota média recebida foi de 7,33 para o sistema. 

Rangel Carvalho (28), professor de  Ensino Religioso da Escola Estadual Benvinda de Carvalho, no bairro Jardim Alvorada, também concorda que agora não seria momento adequado para o retorno. Ele explica que o universo de uma escola é algo complexo, que envolve muitas pessoas, além dos alunos e professores. Na escola que trabalha, por exemplo, contou que as informações e suporte não chegam com facilidade. Em junho, Rangel prestou um serviço social de entrega de cestas básicas a professores e servidores de modo geral. Nessa experiência, o professor percebeu o desamparo existente:

“Questionando sobre o uso de máscara e álcool em gel, percebi que a maioria não tinha acesso à essas coisas. Então a gente coloca o questionamento, já que eles não têm acesso a coisas básicas, o Estado vai prover isso?”

Além disso, contou que grande parte de seus alunos moram com pessoas de idade avançada, o que pode ser um fator de risco para a propagação do vírus. 

As opiniões sobre o assunto se dividem entre a saúde e segurança, e o déficit no ensino que esse período tem trazido. Por isso, é importante reforçar a necessidade de atendermos as determinações dos órgãos públicos e a Organização Mundial da Saúde, para que esse momento seja superado da maneira mais eficaz e responsável possível.