Por William Araújo

Entre os dias 8 e 12 de maio, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) retirou, na regional Centro-Sul, em torno de 70 placas e faixas fora dos parâmetros estabelecidos pelo Código de Posturas do Município. Foram removidos anúncios publicitários de lojas, serviços e, principalmente, imobiliárias.

Em 2016, no Buritis, foram recolhidas das vias públicas 289 peças publicitárias. Neste primeiro semestre de 2017, segundo a Gerência de Fiscalização da Regional Oeste, 94 cartazes, faixas e placas foram retirados do bairro.

De acordo com a Lei Orgânica 8616/2003, no art. 189 do Código de Posturas do Município de Belo Horizonte, somente é permitida a fixação de faixas e estandartes em logradouros quando estes veicularem informações de interesse público, feitas pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) ou órgãos do mesmo poder.

No ambiente de ordem pública, esses anúncios não licitados causam poluição visual e outros transtornos, entretanto, na esfera particular, nos locais em que são permitidos, o problema pode se agravar e afetar a segurança de indivíduos.

Foi esse o debate aberto pelo grupo de 14 imobiliárias que atuam no bairro Buritis:

– Os anúncios de venda e aluguel de imóveis poluem e trazem insegurança?

No bairro Buritis, proprietários de imobiliárias se uniram para retirar os próprios anúncios adesivados das janelas de seus clientes. De acordo com o grupo criado pelos empreendedores, a principal motivação foi a insegurança que estes materiais publicitários podem trazer aos condôminos.

Segundo Thiago Rodrigues dos Santos, proprietário da imobiliária Via Nobre, no Buritis, estes adesivos de venda e aluguel afixados nas janelas podem servir de argumento para que pessoas mal-intencionadas entrem em condomínios e prédios.

Thiago, que também é corretor, percebeu essa brecha de segurança quando foi até o apartamento de um cliente e ele não estava. Conversando pelo interfone com a empregada doméstica, se identificou como funcionário da imobiliária e disse que precisava entregar algumas documentações. A moça, então, abriu o portão do condomínio e o deixou entrar.

Da esquerda para direita - Mauredson Junior, Via Nobre Imóveis; Marcus Vargas, Imobiliária Buritis; Braulio Lara, Solimob Netimóveis e Thiago Santos, Via Nobre Imóveis - Fonte: Jornal do Buritis

Da esquerda para direita – Mauredson Junior, Via Nobre Imóveis; Marcus Vargas, Imobiliária Buritis; Braulio Lara, Solimob Netimóveis e Thiago Santos, Via Nobre Imóveis – Fonte: Jornal do Buritis

Outros corretores e proprietários de imobiliárias, assim como Thiago, também concordaram com o perigo que os adesivos podem oferecer e decidiram participar da mobilização pela segurança e contra a poluição visual. Atualmente, 14 imobiliárias que atuam no bairro Buritis aderiram à iniciativa:

  • – AG Negócios Imobiliários
  • – Ângela Ferreira Imóveis
  • – AWF Imóveis
  • – Beltrão Neto Negócios Imobiliários
  • – Boreal Net Imóveis
  • – GR Imóveis
  • – Grupho Imóveis
  • – Imobiliária Buritis
  • – Sensale Net Imóveis
  • – Sogno Imobiliária
  • – Solimob Net Imóveis
  • – Stilo Net Imóveis
  • – Via Nobre Imóveis
  • – VPR Imóveis

“Também sou morador do Buritis e já cheguei a ver cinco adesivos de imobiliárias diferentes na mesma janela. Participo no Whatsapp da Rede de Comerciantes Protegidos do bairro e percebi, pelo grupo e noticiários, que a modalidade de roubos a prédios está crescendo. Como prezo pela segurança de meus familiares e amigos, decidi arcar com os prejuízos da ausência deste tipo de propaganda em prol de um bem maior. Na minha opinião, é melhor prevenir do que remediar”, conta Thiago.

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As consequências de não colocar adesivos nas janelas foram visíveis na Via Nobre. Segundo o proprietário, dos 1002 imóveis para venda e aluguel na imobiliária, aproximadamente 400 usam adesivos. Esse tipo de publicidade representava, na empresa, em torno de 60% das chamadas telefônicas. Agora, optamos pela publicidade online e evitamos que compradores visitem os imóveis sozinhos.

“Com a retirada das propagandas das janelas, houve uma queda de 35% nas ligações feitas para a imobiliária, mas os portais e sites de vendas de imóveis são uma alternativa para recuperar o lucro”, diz Thiago.

As imobiliárias participantes da iniciativa assinaram um contrato para removerem gradualmente os próprios adesivos e de umas das outras. No caso da Via Nobre, seis meses após ingressarem na mobilização, foram recolhidos mais de 180 propagandas em prédios – uma média de três por dia.

Segundo um síndico do bairro Buritis, que preferiu permanecer anônimo, os cartazes de publicidade de imobiliárias trazem transtornos e podem servir de pretexto para que suspeitos entrem em condomínios e prédios. Além disso, fixar placas nas janelas de apartamentos provoca poluição visual.

“Certa vez, me deparei com pessoas suspeitas dentro do condomínio. Elas estavam tentando acessar o elevador e, conscientemente, chegar ao hall. Alegaram que o corretor havia dado as chaves para que fossem avaliar um apartamento. Como não tinham imóveis à venda no prédio, pedi, gentilmente, que se retirassem”, conta o síndico.

Outras imobiliárias atuam no bairro, mas não se juntaram à iniciativa. De acordo com Thiago, a mobilização destas empresas no Buritis é apenas um passo, o principal objetivo é a conscientização de moradores e síndicos para adotarem práticas que aumentem a segurança de seus próprios lares.

Trabalho da Polícia

Após uma pequena onda de arrombamentos e invasões no bairro Buritis, a 126ª Companhia, comandada pelo Major Celante, e a 18ª Delegacia Distrital de Polícia Civil, sob responsabilidade do delegado Flávio Grossi, iniciaram uma colaboração investigativa e detiveram, no dia 26 de maio, Robson M. S., vulgo Manco, suspeito de vários assaltos residenciais na região.

De acordo com nota veiculada pelo Delegado Flávio Grossi e o Major Celante, o cúmplice de Robson, Fabrício S. P, já estava preso em cumprimento a um mandato de prisão proveniente da mesma ação investigativa.

Com eles foram encontrados vários materiais, como bicicletas, câmeras fotográficas e outros, que aguardam, agora, a identificação dos proprietários para proceder restituição.